11.12.14

Do tempo terapêutico


Noiserv, "Palco do tempo, in https://www.youtube.com/watch?v=he-nceylej8
Sabes? É neste palco que nos movemos. Um palco onde esbarramos na tirania do tempo: ora vagarosa esperança do porvir diferente, ora punhal afiado na carne ensanguentada pelo pretérito que merece olvido. Deitas os lábios à fonte do tempo. Eles vêm molhados com os nutrientes que por dentro de ti abonam a alforria que não será a destempo. As curvas deixam de ser um ardil. Os montes não são aqueles medonhos promontórios que julgavas não saber subir. Às tuas mãos, vigilante deste oráculo, os rios dir-se-iam trazer uma água prateada. Nesse caudal, resguardadas do olhar ávido, só palavras em forma de sortilégio. O tempo é uma medida que deixa de ser tirania. Pois o tempo na sua medida futura é um vasto prado vestido de centeio coreografado pelo vento vertiginoso. Esperas que o tempo seja recompensa. E sê-lo-á. Porque ele não admite os fracos de espírito em seu umbral. Ele reserva o pedestal para os que sabem manter o olhar no firmamento, limpando as lágrimas que marejam o olhar quando por dentro as consumições fazem arder as veias. Não: não podes deixar que o tempo faça abater as asas negras de um abutre disfarçado de serafim. Estendes a mão e derrotas os demónios que o tempo traz em sua madraça cortina. As tuas mãos, as fortes mãos que não desistem, agarram as cortinas de fumo e limpam o céu, que fica a estrelar, esplendoroso. É quando o tempo passa a estar sitiado dentro de ti; e deixa de ser o tiranete que aplacava a vontade e fazia medrar lágrimas inúteis. Agora que o tempo vindouro assoma em forma de acetinado céu, sabes que tens a recompensa a abraçar o teu regaço. Há quem lhe chame justiça divina e diga que é daquela estirpe que não demora. Há quem lhe chame centelha do tempo por haver, desembainhada dos dedos que não capitulam à desesperança. Desse tempo que vem na forma de terapêutica.

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