In http://blogs.telegraph.co.uk/technology/files/2013/01/stock-footage-white-flag-waving-over-time-laps-sky.jpg
Há quem diga que é teimosia. Quem não
entenda a utilidade de manter os pés firmes no chão molhado enquanto se apanha
com o vento irado e a chuva fria que vem de frente. Há quem acene com a cabeça,
em tom de reprovação, porque as provocações devem ser ignoradas – e à
irrelevância deixar quem as semeia em proveito de tempestades em que, afinal,
se cai.
Os que de fora ajuízam em favor da
sanidade dos sentidos são só espetadores. Assistem por fora sem saberem o que é
ser apoquentado. Talvez por isso estejam refastelados num sofá de veludo, uma
perna cruzada sobre a outra, copo de vinho tragado vagarosamente, em pose muito
filosófica, enquanto peroram sobre a irritação alheia. Talvez não se lembrem de
espreitar ao espelho de onde viriam as imagens pretéritas das suas próprias
tristes figuras. Também lhes calhou um estafermo na rifa do desfado. Mas devem
ter a maleita da memória desmaiada. Ou julgam, do alto da sua pose filosófica,
que são gurus alheios e gostam de sentir que alguém os olha como paradigmas de
conduta.
Entretanto, sem dar crédito a teimosia
nenhuma, os olhos (transpirados pela fanfarronice alheia) debatem-se, procuram
empurrar as pálpebras para cima para não capitularem ao sono. As mãos vão à
massa dura que tem de ser amaciada. Sem água que a amoleça, apenas com a força
das mãos que não se rendem. Às vezes, a massa tem de ser sovada para poder levedar.
Atira-se a massa à parede com a força toda que os braços conseguirem
arregimentar. Resgata-se a massa ao chão.
Se teimar na sua pétrea condição,
simulando-se inanimada, a não rendição trata de a amolecer. A bem ou a mal. Só finda
quando os dedos das mãos cansadas se conseguem meter dentro da massa. A não
rendição teve proveito. Sovada tantas vezes pelo contragolpe da palavra malsã,
foi ela que capitulou.
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