Savages, "Waiting for a Sign" (live), in https://www.youtube.com/watch?v=LiK9hMYn6dg
Há vigilantes em lugares estratégicos.
Revezam-se, em turnos, para nunca os sentinelas estarem imersos no sono.
Cativam toda a atenção. Os olhos, ainda que estremunhados, vasculham o
horizonte em todos os seus quadrantes. Andam em demandam de sinais. Sinais de fumo.
Sinais que desencravem os impasses em que as coisas caíram. Sinais, não se sabe
vindos de onde. Nem interessa a cor com que o fumo vem tingindo. Apenas que
sinalizem os contrafortes de uma esperança qualquer.
E, todavia, ainda ninguém se interrogou
sobre o significado dos sinais quando eles subirem ao céu. O que podem querer
dizer? E quem os emitiu quis enviar a mensagem que o seu decifrador captou? Às
vezes, a comunicação esbarra nos imponderáveis da fala, nos estados de espírito
que embaciam a lucidez, na vontade (ou na ausência dela) em transformar sinais
de acordo com um código viável. Os sinais de fumo podem ser um ardil. Podem
atrair a presa (que não sabe que o é) a uma armadilha, se o leitor dos sinais
estiver ofuscado pela alucinação e tirar as medidas dos sinais ao avesso. Mas
os sinais também podem ser a promessa de paraíso que leva a montar uma atalaia
permanente na detecção dos possíveis sinais. Pode ser apenas o resultado de uma
crença, testemunhos passados de geração em geração, fermentando um imaginário
coletivo que é promitente de um futuro radioso. Os sinais transformam a
essência do horizonte. Pintam os dias vindouros com cores garridas. As gentes
açambarcam um sorriso estrelar, tão feérico como a cintilação que vem do céu
desembaraçado de nuvens.
À espera dos sinais de fumo, e que eles
confirmem o imaginário construído, os sentinelas são como guerreiros sem armas.
Não vigiam inimigos que possam tomar de assalto a fortaleza que resguarda a
comunidade. Vigiam os céus, esquadrinhando cada pedaço de horizonte como o
fazem os modernos argonautas em busca de novas constelações. Os sentinelas
nunca dormem. Não se perdoariam se o sono ditasse o esquecimento dos sinais de
fumo. Só não poderiam garantir se, durante o sono, teriam passado sinais de fumo.
Não vá o diabo ser tendeiro, mais vale a
atalaia perene.
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