Arctic Monkeys, "Don't Sit Down 'Cause I've
Moved Your Chair", in https://www.youtube.com/watch?v=h1vYbHHhqYE
Era um convite amável.
Para uma conversa daquelas que prometem. Foi ao lugar combinado. Não estava
ninguém. Só uma cadeira no meio de uma sala vazia. E uma janela, para espreitar
o bulício da cidade, lá fora. À hora combinada, continuava sozinho na sala. O
interlocutor estava atrasado. A ver pela azáfama lá fora, pelos automóveis
fazendo torniquete na rua apertada, o atraso era dado como certo. O tempo foi
passando. O entardecer chegava, com a luz diurna a desmaiar no esgar deitado pelo
horizonte à frente da janela. Já passava quase uma hora da hora marcada. Não
havia vivalma no edifício. Nem novas de quem prometera uma conversa promissora.
A penumbra levou o dia
embora. O quarto não tinha luz. As paredes não tinham interruptores, sequer.
Parecia que o quarto fora feito como cárcere, para aprisionar o seu hóspede na
temível escuridão adestrada pela deposição da luz diurna. A cadeira continuava
imóvel. Uma almofada lilás na cadeira convidava ao descanso. Já passara um par
de horas à espera e a motivação da conversa que se prometia tão nutrida não
dera descanso às pernas. Continuava de pé, em constantes deambulações da janela
para o interior do quarto e de volta à janela, com metódicas paragens a
esquadrinhar as porosidades das paredes. Treinando a conversa que era
promissora. As pernas não davam sinal de cansaço.
Três horas de atraso. E
nem notícia de ninguém. Se o interlocutor não podia vir ao encontro, ao menos
que tivesse mandado alguém para dar o recado. Arrependera-se de não terem
trocado números de telefone. Não estavam contactáveis. Em vez de desistir e
sair do quarto com o logro do silêncio, teimava na espera. Podia ser que alguém
viesse...
Até que o cansaço juntou-se
à fome. Já devia ser hora do jantar – e, ato contínuo, olhou para o relógio. (Evitara
olhá-lo nas horas anteriores, para não se dececionar com o tamanho do atraso.)
Tomou uma resolução: eram quase nove horas, ia esperar até às dez. Até lá,
ficaria à espera sentado na cadeira. A desistência do pleito já começava a
germinar. Foi em direção à cadeira. Sentou-se. A almofada lilás escondia a
cadeira em falso, sem fundo. Caiu desamparado no chão. Afinal, tudo aquilo não
passara de uma urdidura.
Da próxima vez, não se
deixaria enfeitiçar pelas promessas de uma conversa promissora. Pois há cadeiras
que, em não parecendo, têm um fundo falso.
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