2.1.15

Edição limitada

dEUS, "The Architect", in https://www.youtube.com/watch?v=k2CFDsG_oxg
E o nome próprio, fica hipotecado? Saímos à rua e percebemos que somos um entre uma massa indiferenciada de gente. Encontramos tantos nomes iguais aos nossos. Intuímos que há tanta gente igual a nós, ao compulsarmos preferências, gostos, tendências, olhares. Mas julgamos que somos únicos, como nos diz o ADN que, de acordo com a sapiência dos cientistas, é edição limitada e exclusiva. Talvez não somos o espelho do ADN irrepetível. Por dentro do pensamento, as águas em sentido contrário. As que certificam que somos edição limitada e sem possibilidade de repetição. E as que desautorizam o otimismo e atiram para o ar a simplicidade da indiferença entre tantos que são iguais.
E se for mesmo como mandam os cânones dos letrados em leis e dos senhores da política, e formos todos iguais? O nome próprio, matriz da irrepetibilidade de cada indivíduo, deixará de fazer sentido? Deixará o nome próprio de ser a centelha que ilumina a essencialidade do ser, mais valendo ser tratado por números que nos despersonalizam? Andamos pelo tempo fora convencidos que não há outro igual. Nem que se fale, em triunfalismo científico, de clones que reproduzem a integralidade do ser noutro que é seu émulo. Quando a ciência chegar a este estado avançado, nem assim a edição deixa de ser única e limitada: o émulo reproduz o original. Este não perde os seus pergaminhos.
Os letrados em leis e os fautores de sistemas políticos que selam o imperativo da igualdade devolvem-nos à humilde condição. Não há lugar para ejeções triunfais que terminem em narcísicas exibições. Pois se andamos pelo tempo fora convencidos que somos edições limitadas, um corpo movediço que identifica singularidade, presos ao cais da ciência que ensina a têmpera do ADN ímpar, a condição terrena da humanidade desfaz esse idealismo. Nem assim o nome próprio fica hipotecado. Não são as leis e os regimes políticos que dissolvem a riqueza dos nomes próprios, nem reduzem a nada a irrepetível personalidade empossada em cada indivíduo.
Uns olhos, diferentes de todos os outros, apuram a chancela da diferença.

Sem comentários: