The Durutti Column, "At First Sight", in https://www.youtube.com/watch?v=PTMckgz_2Vw
O torniquete falsifica as medidas. Os
nomes vêm numa amálgama com os rostos, vêm juntos numa nebulosa que não deixa
distinguir nada. Os rostos são conhecidos. Mas os nomes não correspondem aos
rostos. Por mais que a memória vá às fundações não consegue soletrar as letras
dos nomes que possam interessar. É como se muita gente estivesse órfã de nomes.
Não é que o esteja, pois a cada um cabe seu nome; na imagem do observador, pela
tela mental por onde desfilam os nomes e os rostos inteiros, há rostos que não
se entrelaçam com nome algum.
Pode ser da memória gasta. Pode ser
apenas distração, ou impreparação para decorar rostos. Ou podem ser tantos
rostos a desfilar na tela mental que não há maneira de reter a constelação de
nomes que vêm a propósito. A certa altura, um rosto, um rosto que se julga
conhecido, vem em contramão com o ar exultante de quem não vê a outra pessoa há
muito tempo. Há os cumprimentos da praxe. Perguntas de circunstância. Palavras
pelo meio, sem contexto que não seja o de inventar conversa (que o tanto tempo
entretanto medrou a indiferença). A memória esforça-se, mas o rosto permanece
imerso na bruma do anonimato. Ou, em não sendo estranho aos interstícios das
reminiscências, não casa com nenhum nome.
Pelo tempo fora, destapam-se os
cobertores das recordações. Inventariam-se lugares para saber se entre eles não
há âncora que se lance aos rostos sem nome. É como se travasse uma luta com palavras
cruzadas complexas que baralham uma constelação de nomes. O desafio é fazê-los
corresponder aos rostos que vêm no canhoto das palavras cruzadas. Os nomes e os
rostos são uma desavença danada nos interstícios da memória. Às vezes,
desiste-se. Apazigua-se o esforço: talvez tenha sido o rosto sem nome que fez
confusão, ter-se-á enganado no desembaraço do reencontro com alguém que teria
perdido rasto há muito tempo. É a maneira de sossegar o espírito.
Os nomes não podem manter-se um caldo
efervescente de incógnitas. Se não, os nomes sem fim tomam conta da lucidez. E
o nome próprio fica hipotecado.
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