The Stone Roses, "Fools' Gold", in https://www.youtube.com/watch?v=NSD11dnphg0
Aos curadores de conselhos – os peritos em aconselhamento dos outros, mesmo quando não são convidados a proferir conselhos e os tiram da cartola por sua iniciativa.
Um microfone à frente da boca. Excitam-se. Podem discorrer a sua tão elevada clarividência. Exaltar opiniões de fino recorte. Sempre sobre o que lhes é exterior: acontecimentos, fenómenos, vidas outras. Falam de cátedra, possuidores de uma capacidade analítica que os coloca no limiar das entidades divinas que de tudo sabem. Eles sabem de quase tudo, desde que não diga respeito a si mesmos. Excretam uma untuosa sapiência emparelhada com uma moralidade que ninguém pediu para ser testemunha. Saltam de conselho em conselho, é como se vivessem as vidas outras por dentro delas. Admite-se que adormecem apaziguados por serem tão altruístas ao ajudarem a entender acontecimentos, fenómenos, a existência dos outros.
Não fossem eles e o mundo seria um lugar pior. A profissão devia estar reconhecida, e com direito a públicas subvenções – pois é um inestimável serviço público que merece reconhecimento a preceito. Os conselheiros da coisa alheia deviam ser dispensados de ter profissão outra. Para se poderem esmerar na função, serem ainda mais proveitosos no aconselhamento. Talvez os psiquiatras e os psicólogos (e bruxos diversos) protestassem por causa da desleal concorrência, mas os governantes não lhes dariam ouvidos. Assim como assim, psicólogos e psiquiatras (e bruxos de diversa igualha) existem desde que a memória tem lembrança e não há notícia que o mundo tenha melhorado.
Os prestadores de conselhos seriam tutores das nossas desvalidas almas. Seriam como pastores que oferecem gratuita ajuda (ou quase gratuita, pois uma subvenção pública não nasce do nada). Em sinal de gratificação, devíamos sentida homenagem. Uma vez por ano, inventando o dia internacional dos prestadores de conselhos (que ele há dias internacionais para coisa tanta!). E nesse dia dir-lhes-íamos, com sinal de respeito, que fossem ser alcoviteiros para dentro das suas próprias e, porventura, mesquinhas e desinteressantes existências. Para rematar, em icónico cinismo, que altruísmos destes soam a bestunto egoísmo (o narcísico reconforto interior quando repousam a cabeça na almofada ao saberem que ajudaram almas desvalidas – ou julgarem que assim aconteceu).
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