Queens
of the Stone Age, “In My Head”, in https://www.youtube.com/watch?v=69e8oa85F3g&list=PLpgpAyEmDZ58UYowMgGEmlHY0Sh7yymk6
Como um cinescópio
avariado, exibindo as cores desmaiadas num raio concêntrico, as vozes sobem ao
ouvido como sussurros que vêm não se sabe de onde. Mastigam as palavras
vagarosamente. Ao início, os sons um pouco guturais soam a palavras ininteligíveis.
Parece que apenas têm a função de incomodar os sentidos, pô-los de atalaia aos
possíveis sussurros que possam vir a seguir. Depois as palavras articulam-se,
começam a ganhar sentido. Só que continuam a não ter remetentes identificados.
As vozes sem rosto ecoam nos ouvidos, percutem-nos constantemente, até que os
sentidos comecem a doer. É que as palavras segredadas contra a vontade dos
ouvidos são palavras sem rosto, por mais que o olhar atento destape as pontas
soltas em redor. E as palavras, como as vozes, começam a ser um desassossego.
Assemelham-se a sonhos confusos, disformes, aqueles sonhos que podiam pertencer
a um prontuário do surrealismo. As vozes não soam nítidas, parecem distorcidas
por um qualquer mecanismo acoplado a um microfone que adultera a nitidez da
voz. As vozes proclamam frases que soam a um alter ego de quem as ouve. Como se
fossem uma maldição que se insinua aos ouvidos e se contamina ao resto, numa
permanente inquietação. As vozes ora falam à vez, ora entoam em coro. Ora em uníssono,
ora num arrevesado caos que torna a mensagem um puzzle de palavras soltas. Mas mesmo na confusão assim adornada
soerguem determinadas palavras chave, palavras que fazem tremer os esteios por
dentro, palavras que parecem presságios ditados depois do tempo, palavras
outrora vãs e que deixaram de ser pronunciadas. Vozes em estridência, já não em
forma de sussurro. E dessas vozes sobressai uma constelação de frases que,
entrelaçadas, dariam para um epitáfio. Sobressaltado, tateando na escuridão que
vem do anonimato das vozes que são intrusas, é a vez de lhes dar caça intrépida.
Oxalá conseguisse descobrir a fonte das vozes desbotadas. E encarcerar essas
vozes todas. Para limpar o pensamento.
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