Arctic Monkeys, “I Bet You Look Good on the Dance Floor”, in https://www.youtube.com/watch?v=pK7egZaT3hs
Sufragam o fastio da
vida sempre depressa. Tomam as asas de um pássaro desvairado e voam entre as
nuvens, escondendo-se de si mesmos. Julgam-se por um espelho mais alto do que a
sua estatura. Não corrompem a verticalidade em troca de duas tentações que se
lhes ofereçam. Querem ser tutores dos céus, de onde dão retaguarda, sem
absoluto paternalismo, aos que são mais queridos.
Sacrificam-se. Hasteiam
bandeiras que não são suas, tamanho o voluntarismo e a ingenuidade próprios da
genuinidade a que se abraçam. De vez em quando, sofrem com as desilusões. Por
não terem sabido acautelar os custos previsíveis de um passo que, visto de
fora, dir-se-ia ser maior do que a perna que o deu. Depois consomem-se em dores
interiores. Interiorizando a dor, sem a quererem mostrar para fora das
fronteiras de si mesmos. A teimosia vem à tona. Num ensimesmar que confunde
vaidade com orgulho (e quantas vezes é tão delgada a linha de fronteira?), fazem
de conta, passam muito tempo a fazer de conta. Entram em negação da pungência
que os mortifica. Acabam por conseguir derrotar os fantasmas que habitaram
paredes meias, em estadia mais ou menos demorada.
Entretanto,
continuaram garbosos na exibição da jactância irreprimível, entretecendo os
palcos onde continuavam a ser protagonistas. Poucos terão sido capazes de notar
as nuvens pesadas que se abatiam sobre os seus ombros. Mestres na arte da
ilusão, continuavam a ostentar orgulho de terem sido capazes de se fazerem saídos
do chão. Num êxtase de autoconvencimento que merecia visitação ao divã do
psiquiatra. Pois nem tudo é centrípeto às suas pessoas, nem o voluntarismo que
quadra com o protagonismo diletante chega a ser convencimento pleno de serem o
que querem mostrar.
Do chão porventura
não terão vindo, como proclamam com orgulho enfático. Em vendo de perto, pela
lupa do possível psiquiatra, concluir-se-ia o contrário de um adágio da autoria
do povo: a imensa fortaleza em que medram apenas esconde um mar (também imenso)
de fragilidades. Pois o chão não é um ninho fértil. O chão é sempre pedregoso,
um covil onde se acoitam as mais venenosas serpentes.
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