Unknown
Mortal Orchestra, “From the Sun”, in https://www.youtube.com/watch?v=aV5b71Ooqu4
Sobre as distrações
avulsas, um ror de pergaminhos. As lições que custam a aprender ensinam como
fazer do estertor de outrora coisa irrepetível. As pontes tomadas pelo medo
ajudam à empreitada. Os custos já sabidos são o sábio penhor para a transação
dos equívocos.
Mas, depois, vêm uns
anjos embaciados pela penumbra, os anjos que vociferam contra a plenitude das
certezas. Sussurram dúvidas existenciais sobre até o que julga ser imune às
dúvidas existenciais. E o corpo começa a ser errante. Começa a medrar pelo
desatino das evasivas. Amontoam-se as interrogações. As que não são de parada
fácil nem são leitos de sonos fáceis. Os olhos indomáveis dos anjos bestiais
sobem por dentro do pensamento. Orquestram variáveis intermináveis. Algumas desdobram-se
noutras variáveis que se sopesam contra outras já dantes contrastadas. Os
dentes frios mordem-se uns contra os outros quando as baias do porvir acenam nas
asas carcomidas de fantasmas.
O sono procrastinado
incendia a levitação do desassossego. Quando o sono por fim encontra o seu
lugar, são sonhos sobressaltados que quase levam a que as preces chamem a
insónia. Vagueia no vazio. Diante de uma folha branca, demora-se num silêncio
interminável, as palavras embaciadas no garrote que aperta a jugular do pensamento.
Não consegue responder nem às demandas mais simples. Está refém de um
desapetecer geral. Até a negação formalizada no banal preceito de contrariar
instintos chega a ficar toldada pelo vidro da hesitação.
Sente-se contumaz. Um
projeto de gente. Adiado sine die. E,
contudo, esta intemporalidade devolve uma centelha. Ao menos o adiamento é sem
prazo certo. Seria pior se um juiz qualquer, por entre a névoa de um oráculo,
soubesse determinar o prazo do adiamento. Pois seria sinal do decesso, sem glória
nem razões para ser herança do porvir ou recordação de alguém. O prazo continua
sem chave. Pode ser que se encerre antes que venha o deus final que cerceia a
existência. Nem que seja por um curto lapso de tempo. Nem que seja para se
iludir entre as coroas de espinhos de reis aclamados. Perante a desistência das
monarquias impensadas, sobram os vestígios semeados à passagem pelos lugares.
Oxalá se convença que os
outros são o melhor juiz.
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