11.9.15

Couldn’t care the less

Teho Teardo & Blixa Bargeld, “Still Smiling”, in https://www.youtube.com/watch?v=rNXqZO14330
Tudo o que desinteressa. Tudo o que agride. Tudo o que apoquenta. Tudo o que descompõe a serenidade de um mar. Tudo o que deixa a terra em convulsões. Todas as aleivosias, vierem de onde vierem. Todos os ultrajes. Todas as maquinações que qualificam os fautores. Todas as palavras agrestes. Toda a retidão ardilosa. Todas as lições de moral. Todos os descampados que são covis de mastins esfaimados. Tudo. E o mais que assorear os dias que passam, adulterando o futuro composto na teia dos sucessivos dias presentes. Tudo o que tiver cambiantes plúmbeas (no que o plúmbeo for negação da estética). Todos os manjares que aos olhos se assomam opíparos, escondendo cicutas fatais. Todas as casas lúgubres, asilo de almas empobrecidas. E tudo o mais que empurra para a errância, como se o ocaso viesse tingido de definitividade. Não colhem os cadafalsos que se apreciam em sua falsa nudez, pois são cadafalsos e não paraísos onde apeteça cair. Haja rigor interno para não decair nos braços de falsos querubins. Haja lucidez para não ser despojado da interior têmpera, se não os braços caídos podem ser arautos de outras más profecias.
Ao contrário: as provações são desafios úteis. Bússolas que dão novas orientações às coisas que importam, deixando as que desimportam no limiar do precipício que as consumirá. Talvez interesse desviar o rosto quando as intempéries roçam os seus limites. Talvez importe selar as irrelevantes coisas num sepulcro que as torne definitivas e vãs. Para que não ser vítima aprisionada nas armadilhas de que não se soube dar conta a tempo. E que não venha a destempo o tempo de as desarmadilhar. Os poros fecham-se aos desassossegos que hipotecam o sono. Para ao sono ser devolvida a maresia e através dela as palavras voltarem ungidas com as doces pétalas do jasmim de algures.

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