The
Clash, “Straight to Hell”, in https://www.youtube.com/watch?v=u8u6t_nFufo
(Três variações sobre um
mesmo cenário)
1. Não contava que
dissesse que não. Não contava que não fosse decair perante os dotes de
persuasão. Mais a mais, a demanda parecia lógica para os dois. Um daqueles
casos em que todos ficam a ganhar. Mas o negócio não se fez. No último
instante, depois de provisórios acordos sobre os termos da transação, ela
recuou. Não providenciou justificações. Ele protestou. Invocou má fé, invocou a
desonra da palavra – e sublinhou que a palavra dada valia mais do que um
contrato (ainda por assinar). Ela não se demoveu. Sem pré-aviso, deixou-o
pendurado no nada. Ele ainda teimou em querer uma explicação para a mudança de
posição. Em vão.
2. Ele usou os dotes de
retórica. Os dotes que faziam os mais chegados vociferar que ele estava
destinado a ser vendedor. Aliás, julgava-se que era capaz de vender qualquer
coisa, mesmo que fosse aparentada com a banha da cobra. Por um lado, conseguia
arranjar interessados que roçavam o néscio. Por outro lado (e para ajudar), tinha
o dom da palavra e uma argumentação convincente. Às vezes, convencia-se que não
era um aldrabão e jurava, a pés juntos, que se estivesse na posição do
comprador aceitava comprar o que ele tinha para vender. Daquela vez, encontrou
a vítima perfeita. Ela não quis saber da linhagem do produto. Não negociou o preço
– portanto, o lucro seria inesperadamente mais elevado. Pagou sem ver. Quando
quis protestar pelo engodo em que caiu, já não o encontrou. Ele desaparecera do
mapa.
3. Chegaram à fala por
intermédio de terceira pessoa. Que sabia que ele tinha algo para vender e que o
produto coincidia com o que ela andava à procura. Combinou-se o negócio. O
intermediário exigiu comissão – no fundo, tinha facilitado a transação com os
seus conhecimentos e diligências. Não se meteu no meio da negociação. Só queria
o seu quando a venda se consumasse. O vendedor acertou com a compradora. Ela
exigiu ver primeiro para depois pagar a preceito. Na sua boa fé, ele não
desconfiou que ela estivesse de má fé. Ela ficou agrada com a qualidade do
produto. Entregou-lhe um cheque em pagamento. Quando ele foi depositar o
cheque, soube que a conta bancária deixara de existir três dias antes. Foi à
procura da aldrabona. Em vão. Desaparecera do mapa. E o intermediário sofreu do
mesmo mal (a comissão fora paga em cheque assinado pela compradora).
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