Einstürzende Neubauten, “Melancholia”,
in https://www.youtube.com/watch?v=y0G9h1SYaso
A melancolia tem uma crina viscosa. As mãos agarram-se à
crina, não vão os solavancos da montada atirar o corpo ao chão. Mas a crina,
admirável ao observador exterior por parecer sedosa e bem tratada, emprenha-se
nas mãos, tomam-nas num todo seboso.
Já se devia ter aprendido. Não tem proveito soçobrar nas
águas lodosas da melancolia. Não deviam importar as cismas que sobem das veias
ao púlpito dos sentimentos. Parece que só se aprende a desaprender. Parece que
a melancolia indomável, cárcere lúgubre onde os olhos não encontram um módico
de luminosidade, produz uma atração irrefreável. Os autos atiram a pessoa
contra a parede onde se autoflagela. E o que se retira da flagelação? Coisa
nenhuma. A não ser o desaprender do que se julgava aprendido. Por mais que os
solavancos da montada alinhem o chão irregular, império das pedras pontiagudas
onde é tão fácil abrir ferida, aquele não é lugar para tirar as medidas à autoestima
ausente. Sem perceber de onde vem esse manancial. Oxalá houvesse uma medida meã
entre os que ostentam presunçoso garbo e os que medram no convencimento de que
todos os males habitam em si.
Enquanto o corpo subiu ao dorso da melancolia, é como se
tudo lá fora entrasse em hibernação. Se calhar, as coisas têm de ser medidas
pelo seu avesso: e enquanto cavalgar no dorso da melancolia, o cavaleiro aprisionado
a um estigma que o apouca, que o faz apoucar a si mesmo, amordaça-se à hibernação.
Podem ser cicatrizes que embaciam o olhar. Podem ser interrupções na lucidez,
atirando-o para o fundo de um poço de onde não vê sobras de luz. Pode ser o
convencimento de que é má rês. Ou apenas o embaraço de se convencer que é um
biltre, que dele não se aproveita nada, nem a carcaça velha quando finar.
Pelas fímbrias da luz que ecoa entre as persianas,
parece que é noite. A penumbra açambarcou o sono, timorato e em inútil demanda.
Os olhos abertos, consumidos pela insónia, fixam-se nas sombras dos poucos
carros que entrecortam a luz dos candeeiros. Sucedem-se as perguntas. Sucedem-se
as hipóteses de incapacidade. À banda da noite madraça, a melancolia enche os
olhos de lágrimas. Que choram.
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