9.9.15

Cães raivosos (ou do dinheiro sem alma)

Batida, “Pobre e rico”, in https://www.youtube.com/watch?v=FclCZzN3cPQ
Pressentem o cheiro gordo das mãos fartas de dinheiro. Pode não ser dinheiro na sua forma física – e raramente o é. Preferem consultar o extrato bancário. Ver os números engordar à medida que jogam a fortuna contra a miséria dos descamisados. Os abastados são como cães raivosos, sempre de dente afiado em busca de vítimas, de preferência as que povoam a maioria silenciosa e que não tem armas para afugentar os mastins.
Quando escolhem os caminhos da acumulação de riqueza, vão por aqueles que arrastarem gente desvalida. Se este for o preço pelo triunfo das suas peças no tabuleiro do xadrez, não hesitam. As vítimas sacrificiais não têm voz, é mais fácil servi-las no altar dos engodos. E nem os justiceiros que vierem com vozearia em forma de protesto chegam para meter travão nesta soez forma de estar. Arranjam-se uns pategos que dedilham as cordas da ideologia (essa coisa inútil) e que se prestam ao papel de idiotas úteis, atirando-se para a refrega com os justiceiros que navegam nos antípodas da sua grelha ideológica.
Tudo o que interessa é sentir o aveludado do dinheiro quando ele repousa no colo das mãos. Os cães raivosos excitam-se com as notas que se resguardam no calor das suas mãos. E quando as mãos já não chegarem para serem o covil de tanto dinheiro, o corpo restante oferece a sua serventia. O pior é que os cães raivosos disfarçam-se nas notas que envergam. Em havendo gente precisada, usam um quinhão da abastança para comprar o silêncio dos carenciados. Perpetuando as injustiças, com o beneplácito (e o estado de necessidade) dos miseráveis. Nem chegam a perceber que são mordidos pelos cães raivosos. Não sentem a contaminação da raiva que vem da envenenada saliva dos capitalistas: pois os seus sonhos medram em ideais, inacessíveis ideais, bolçados pelos corruptores das almas.
Os ricos, como acontece com os cães raivosos, deviam ser caçados pelos agentes da equidade. E escoltados até à perpétua prisão. Quando todos estivessem fora da rua, o sonho da justiça permanente seria possível. E aí só haveria pobres.

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