Patrick Watson & Cinematic Orchestra, “To Build a Home”, in https://www.youtube.com/watch?v=QB0ordd2nOI
De que argamassa é feita a casa mistério, a casa que
alojamos nas mãos inteiras? Nem argamassa é precisa e a casa torna-se uma
fortaleza à prova das bombas todas. A vontade substitui os predicados das
engenharias. A casa matriz não precisa de cálculos para apurar a resistência de
materiais, nem carece de alicerces fundeados nas profundezas necessárias para não
se afundar nas intermitências telúricas que são a amálgama do tempo. Não precisamos
de aformosear a casa; só precisamos de a sentir em sua essência, embebidos na
catarse de uma janela entreaberta que filtra a luz que interessa, numa
coreografia em uníssono que escorraça os maus ventos. Só precisamos de meter as
mãos nas fundações da casa para sabermos que elas ficam inteiriças, coesas, como
se fossem um cais fundo que suporta a força toda das águas que vierem dos lados
todos. Fazemos a casa como uma árvore centrípeta, imponente. Dela somos o
tronco de largo diâmetro, a raiz de todas as coisas que nos são impressão
digital. Uma casa-árvore, meneada entre as nuvens mortiças que não escondem o
dia soalheiro. Ou então, a casa tributo ao desejo nosso inquilino. As folhas
verdejantes, perpetuamente verdejantes, dançando a música do vento que entra
pela janela, cuidando de atear o desejo. Na casa que é nossa matriz somos
penhores da grandeza que ela ostenta. Sem medo do porvir, sem sonhos outros se
não os que trouxemos do sono para o tempo lúcido. Como se tocássemos um piano a
quatro mãos, sem partitura diante dos olhos, e a música proviesse em hino sibilino.
Temos um refúgio, a casa matricial que nos devolve a pureza dos sentidos. Curadores
da sua estética, um esteio maior que fermenta por dentro das veias, no pulsar que
ouvimos no chamamento que vem do compassado agitar das asas interiores. Levamos
a casa connosco. Onde quer que seja o lugar que queremos ser. O roteiro somos nós.
E reivindicamos a árvore centrípeta como legado do que em nós fruímos mercê dos
olhos intensos que se põem uns nos outros.
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