Electric Wizard, “Funeralopolis”,
in https://www.youtube.com/watch?v=F-x6qqNy0mo
Somos reféns do estado de espírito que houver no
momento. E como não somos matéria sopesada no equilíbrio perene, variamos nos estados
de espírito, nas suas diferentes espessuras. Os diferentes humores são o húmus de
diferentes reações ao mesmo acontecimento. Há alturas em que tudo parece
sorrir, até as coisas que julgamos misantropas. Noutras alturas, é como se uma
pesada nuvem escura adejasse sobre os olhos, sobre eles pesando, dobrando o
dorso para a pungência do ser e do haver à volta. No primeiro caso, sobra a
paciência, pratica-se tolerância. No segundo caso, na altura em que o é, a paciência
esgotou-se, ferve a rispidez. E há, ainda, a indiferença – sem ser terceiro estado
de espírito, antes transcendendo os dois opostos.
No dia do humor soalheiro e risonho, perante uma
adversidade semeada por um intérprete que, estivesse o orvalho pesado a
cacimbar o horizonte, levava, ato contínuo, com o rótulo de soez (com
agradecimentos à lucidez que trava pior qualificativo): sorria-se à personagem,
virava-se o rosto não com o propósito de a ignorar, mas para oferecer o lado
oposto com cristã intenção de vulgarizar a soez personagem dando-lhe o obséquio
de um esbofeteamento não ficar órfão por não ser em número par. Dir-se-ia, a
seguir, para vir amesendar no recato da sossegada existência onde não confluem
fantasmas que a sobressaltam. Pagar-se-ia o repasto, em dobrada dose de
generosidade. Dir-se-ia adeus à personagem, com votos de melhorias no duvidoso
estado mental. De preferência, até ao nunca no porvir.
No dia do humor destravado, com as escadas do pensamento
carcomidas pela paciência que se ausentara: mandar-se-ia a soez personagem ao
bardamerda. Com as palavras todas, pausadamente, para ela perceber melhor. Proclamar-se-ia
a sua vetusta idade mental em desarmonia com as pueris intenções, num paradoxo
limitativo da existência, passível de acompanhamento por peritos em distúrbios
de personalidade. Sublinhar-se-ia a agnosia, doença terminal que determina o colapso
da convivência, tornada impossibilidade manifesta. Repetir-se-ia o irremediável
destino merdoso, só para tal personagem não perder de vista o berço que a
merece. Acentuar-se-ia a menoridade da personagem, imaculadamente bestunta nos
interstícios da maldade inata e da boçalidade que berra ao olhar. Para que não
caísse em esquecimento, novo acento tónico na irremediável pocilga onde merece
medrar em sua própria escatologia. Só louvores...
Se em vez dos opostos humores levitar a indiferença,
ignora-se a criatura, destinada à irrelevância – o maior ultraje que pode
sentir. Com o benefício adicional, e mais importante, de não causar dano em
quem a destina à indiferença.
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