Brendan Perry, “Inferno”,
in https://www.youtube.com/watch?v=Fm8iOlqoowA
Uma encruzilhada. Não há instrumentos de navegação. Apenas
o vasto deserto. E a ambição sem freios, que leva às resoluções que não são
sopesadas. Olhe para onde olhar, a
paisagem é igual. Apesar de as sombras que mascaram as ilusões deitarem a
perceber um possível oásis para um dos lados. A falta de siso ajuda a compor a
imagem pálida que vem de um lado do cruzamento, em contraste com a centelha que
alguns acenam do outro lado.
Num momento de sobredimensionamento do ser, atribui-se uma
importância que só tem par nas divindades: é o pêndulo de tudo, o juiz que
arbitra a vontade dos outros, de todos os outros que lhe são satélites. Num
acesso de irreprimível grandeza, julga-se a matéria centrípeta. Não chega a
perceber que os pés depostos junto à encruzilhada simbolizam um precipício, sem
dar conta que o precipício se esconde atrás das cortinas de fumo que emprestam
encanto ao cenário de que se julga tutor. Não percebe a dimensão do chão que
pisa. Não percebe que os promitentes que acenam com prebendas mil só se querem
aproveitar da centralidade que julga ter em suas mãos. Mas não é o ator
principal. Não passa de um instrumento a ser jogado nas mãos dos outros, que têm
mais destreza e não estão embaciados pela penumbra dos descaminhos de outrora.
O pobre ser não sente que está a ser exaurido. Por dentro
de si e pelas Cinderellas apressadas que o estão a cortejar. O pobre ser está a
um passo estreito do suicídio e, mau grado, continua convencido do estrelato de
que se ufana. Até pode ostentar a figura de ator principal; atrás da penumbra
onde tudo se joga, sem os néones que dissolvem a lucidez, o pobre ser não intui
os preparos do suicídio em que se meteu. Qualquer que seja a consorte escolhida,
vai-lhe acontecer como àquelas espécies de aracnídeos em que o macho é devorado
pela fêmea logo a seguir a terem terminado a cópula.
(A semelhança com a realidade – a prosápia dos socialistas
que julgam ser os salvadores da coisa desde o papel de perdedores – não é
coincidência.)
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