Queens of the Stone Age with P. J. Harvey, “Make
it Wit Chu” (Live at Jools Holland), in https://www.youtube.com/watch?v=S2JDV_T3Kmg
Sem as peias que embaraçam os braços. Sem deixar o olhar
turvado nas gotas finas do nevoeiro de novembro. Sem transtornar o tempo
fruído, nem frear o tempo prometido por oráculos ocultos. Sem palavras
hipotecadas. Nem sentidos embaciados por tempestades que levitam no horizonte
onde, madraços, fantasmas obstinados persistem em adejar. Sem nada disto, ou
outro tanto de igual jaez, como contratempo das nossas mãos. Porque contamos
como entidades supremas, únicas, como se a certa altura o mundo inteiro fosse
pequeno para alojar a imensidão que frui de dentro de nós. Amamos intensamente.
É o remédio.
Sabemos, de fonte certa, que as águas frescas que correm
dos mananciais desatam os nós que obstruem a lucidez. Vamos à margem do rio e
recebemos o frescor das águas, como se fosse necessária fonte de inspiração.
Pois sabemos que as trevas que persistem são derrotadas com a algidez das águas
mansas, um banho medicinal que desfaz sobressaltos em contramão. Depois,
trazemos nas mãos as flores campestres, que permanecem frescas a viçosas
enquanto estiverem resguardadas no conforto das mãos.
Chegamos à cidade, o lugar onde estão mil olhos atentos,
ou talvez apenas indiferentes – e, contudo, olhares presentes. Deitamos as
flores ao alto. Elas vão alimentar uma chuva miúda, perfumada, uma água propícia
que se deita sobre os nossos cabelos, molhando-os. Damos as mãos, em contínuo
amar intenso. Os cabelos molhados não se intimidam com a chuva miúda e perfumada.
As mãos entrelaçadas protegem-se da chuva, continuam secas e quentes. Ao fundo
da rua, sem sabermos o que esperar da encruzilhada, temos a certeza que vamos
meter os corpos pelo caminho acertado. Assim nos sussurra uma voz quente,
promotora de um oráculo que nos aparece em sonhos. O dia que veio com a
alvorada fresca traduz os sonhos em matéria sensível.
Somos nós, deuses em pessoa, autores e intérpretes de uma
voz singular, uma voz em uníssono. Somos nós, matéria sublime de nós mesmos. Levantando
ao alto o altar mais alto de onde nos despojamos para sermos pureza em nós. Amando
intensamente.
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