Dead Combo, “Like a Drug”
(live), in https://www.youtube.com/watch?v=2DpdcHdXUww
Num impulso lunar, soprando a poeira que é um embuste
sobre os sentidos reprimidos: e se dissesse as coisas todas que trago guardadas
no peito? E se descarnasse o peito, como se faz nas autópsias, deitando o peito
descarnado ao olhar alheio, tudo o que o peito guarda em confissão interior?
Teria coisas contundentes a proclamar? Teria segredos pungentes a mostrar?
Ou, talvez, o peito é depósito de diligências dantes destituídas
de urgência. Guarda as palavras que teriam sido ditas, se outras circunstâncias
se tivessem composto. O peito, talvez, é um zelador de diplomacia, ao ter como
suas, e exclusivas, as palavras que podem desatar tempestades. No caso dos
segredos, o peito condói-se com alguns deles, vergonhas insuscetíveis de
assomarem à superfície. No peito vicejam palavras rebeldes, palavras reservadas
para as interiores divagações que não podem ver a cor exterior, sob pena de
quem as profere ser arrumado no estábulo dos misantropos.
Ou, talvez ainda, o peito não tivesse nada de importante
a confidenciar. Em matéria de confissões fácticas, não há segredos que tenham
valimento. Não é que o peito seja um alfobre vazio, despenhados palavras e sentimentos
e segredos no precipício do afrontamento, já nada sobrando para deitar ao mundo
se o peito for aberto outra vez. Mantém-se uma solene ansiedade só de elaborar
a interrogação: e se dissesse as coisas todas que trago no peito? Incisiva interrogação.
Porventura, só para convocar a atenção alheia; ou porventura, porque num
volteio de ensimesmar, o intérprete se achou órfão de atenção e reclama-a para
que o sono não seja perdido nas vésperas da indiferença. Quando já conseguiu
concitar a atenção de quem se achou cativo da súplica dilacerante, o peito fica
fechado; ou abre-se, num instante fugaz, percebendo-se nas entrelinhas do peito
apenas entreaberto que não há coisa nenhuma para ser dita. Um logro. E uma audiência
inteira sem paciência para indulgências, ao ser tomada como lorpa.
A meio caminho entre as duas hipóteses, ferve a
incerteza. Afinal, o peito guarda coisas que mereçam ser ditas? E, afinal, o
peito guarda coisas que mereçam ser ouvidas? O critério afina a bitola da dúvida.
Não se sabe se a interrogação que importa é a primeira ou a segunda.
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