Nicolas Jaar, “Time For Us”
(live), in https://www.youtube.com/watch?v=FLKpiyBGtt8
Sob as rugas das folhas decadentes votadas à sua fatal
sorte. No mais fundo do húmus. No mais fundo dos rios, até daqueles disfarçados
por uma garganta que empareda duas margens que se escondem do céu. Resguardados
das intempéries que vierem a ser, até das mais devastadoras. A coberto da
servidão do tempo e do seu desgaste. Os esteios. As fundações estruturais. Os lapsos
que enlaçam as intermitências avulsas, formando um contínuo. Como se houvesse serventia
para pontes que caucionam o abraço entre duas margens separadas pelo artificialismo
de um precipício. (Considerando que o precipício foi ali colocado para fazer
uma divisão que, de outro modo, não existiria.)
Um esteio secular, intemporal, se preciso for. Um esteio
que é esteio de outro esteio, que por sua vez serve de ancoradouro a esteios
outros que se entrelaçam num todo, inteiro. Para não haver lugar a pesadelos
que teimem em sua tenacidade; os pesadelos, existirão com a regularidade de
sempre: sob a proteção de esteios, os pesadelos não passam de matéria onírica
sem consubstanciação, não passam de ameaças que apenas têm o condão de
importunar o sono.
Os esteios não servem para desmentir as facetas negras
que embaciam o chão que se pisa. Servem como cais onde o corpo se ampara quando
o chão se armadilha e o corpo pode ser atraiçoado pelo chão que resvala. Os esteios
são unipessoais. Não há esteios na forma de pessoas – muito menos uma pessoa
pode ser tida como esteio de outrem. Pois os esteios supõem uma matéria que
transcende a natureza frágil dos homens. São coriáceas armaduras, matéria à
prova de bala, feitos de substâncias ímpares em sua rigidez, indestrutíveis. Perenes,
na efemeridade do suserano do esteio.
Não se conhecem formas visíveis dos esteios. Sentem-se
no exato momento em que forem convocados para resguardar um corpo do naufrágio
possível. Não são sucedâneos de divindades, apesar da sua aparente
impassibilidade perante possíveis fragilidades que os possam apoquentar: sendo
idiossincrasias, pertencem ao domínio do indivíduo. O que chega para negar a sua
condição deificada, que não passa de um disfarce. Os esteios servem de amuleto
para o caminho que houver para fazer.
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