Underworld, “Born Slippy”,
in https://www.youtube.com/watch?v=6iKFn8dlxX8
Que resolução imoderada, promessa porventura infundada:
quem, no seu juízo, pode garantir que o melhor está ainda por chegar? Quem ostenta
tanta ousadia ufana-se de ter levado uma vida cheia, invejável aos olhos outros
(como se houvesse transferibilidade de experiências e uma vida vivida por uma
pessoa pudesse ser invejada por outra). As medalhas que ornamentam a lapela da
vida servem para garantir que mais e melhores estarão a caminho. Se ambicionam
desafios – porque serão desafios destes que dão alimento aos dias na sua sucessão
– faz sentido: um desafio segue-se a outro e, na pior das hipóteses, se for o
desafio a levar de vencida, em vez de quem o formulou, o fracasso é varrido sob
o tapete e o resto será incumbência do esquecimento.
Os lugares-tenentes de tamanha ousadia podem prometer um
palco ainda mais idílico apenas como modo de subirem ao púlpito de onde
consagram as suas egrégias personagens. Julgando-se invejados pelos demais,
quase como se ambicionassem uma estatueta de imortalidade, chegam-se ao sopé do
olimpo e garantem que conseguem proezas ainda mais notáveis. Pode dar-se o caso
de tudo se resumir a bazófia – ou de ser o estéril massajar do ego. Eles sabem
que há gente de mais para ser escrutinada e, na hora certa, em caso de malogro
dos propósitos solenemente proclamados, ninguém estará com a devida atenção para
a prestação de contas. E o mundo segue a ser como dantes era.
Ou pode tratar-se de uma desengraçada existência, até
agora preenchida por proezas ausentes, ou pela impossibilidade de as caucionar.
Alguém que, num repente, se descobre predestinado para albergar em seu regaço
um rol de enunciações dignas de registo. Perante o deserto de antanho, não é
empreitada difícil. Por mais singela que seja a única rosa colhida, será sempre
uma façanha. E poderão comprovar, no acerto das contas, que estavam ungidos com
razão quando avisaram o mundo que o mundo deles podia esperar um quinhão de
coisas melhores. A modéstia do passado é a caução sublime de tão arrevesada
declaração de intenções.
Ao menos, não fazem a figura iridescente dos que
ostentam à lapela a certeza de ainda melhores dias a jusante, esgrimindo a imodéstia
do seu futuro certificado dentro de um saco cheio de nada.
Sem comentários:
Enviar um comentário