26.1.17

Sem passar pela casa da partida


Love and Rockets, “Ball of Confusion”, in https://www.youtube.com/watch?v=NcfXWtI7ML0    
Conjeturas intemporais: peões que se alçam ao papel de generais, na indisfarçável epopeia que fazem corresponder a sinecuras que protestam ocupar. Querem privilégios a condizer. As regras liquefeitas, que as regras são aplicadas aos outros – os que não podem certificar as prerrogativas exercidas em correspondência com tão importantes alcavalas.
Querem que se faça tábua-rasa às leis tabuladas, pois para isso também servem as distintas patentes ostentadas à lapela (nem que seja apenas em sentido figurado). E depois, se preciso for, aparecem em público ungidos (ou ungindo-se a si mesmos) como máximos zeladores das regras que caucionam igual tratamento de todos perante as regras tabuladas. Na hora certa, quando precisam do tratamento de exceção, em que exigem continuar no tabuleiro do jogo sem terem de passar pela casa da partida, insinuam-se, gelatinosamente, a favor do tratamento de exceção: “Ninguém tem de saber, isto fica entre nós”. “Vá lá, faça o jeito.” E se o interlocutor acena com intransigência – afinal sem o ser: trata-se apenas de cumprir o preceituado – são capazes de invocar recursos a instâncias superiores. Em jeito de ameaça, para desimpedir a intransigência do interlocutor: talvez ele se intimide com a possibilidade de intercedência a uma figura superior e faça a tábua-rasa insistentemente apelada.
A páginas tantas, o interlocutor apela à teimosia. Não cede, nem perante a ameaça de recurso à figura superior. Não adianta querer seguir no jogo sem passar pela casa da partida. Se todos têm de lá passar, não podem os que se acham ungidos com privilégios usurpar um tratamento de exceção. Assim como assim, eles não escapam ao todo de que todos fazem parte. Habituados a um ecossistema de compadrio e a favores que pagam favores que por sua vez pagam outros favores, os especiais de corrida que não querem passar pela casa da partida esboçam ira. Julgam que é o recurso derradeiro para não passarem pela casa da partida.
Não adianta. É pior: as ameaças veladas e a ira não desobstruem a intransigência, não são o expediente para deitar mão no expediente solicitado. Não adianta: a páginas tantas, os putativos generais que se acham merecedores de um tratamento de exceção correm o risco de serem metidos numa ETAR.

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