10.4.23

Sub-15 (quarto de hora)

The Smiths, “Heaven Knows I’m Miserable Now”, in https://www.youtube.com/watch?v=TjPhzgxe3L0

O ato de absolvição: um atraso que não leva as consequências de um atraso. Fala-se de costumes. De não haver medida certa para o tempo porque não se acerta a medida pelo tempo que é dado a haver. Outros, menos prosaicos, falam do “quarto de hora académico”: ninguém leve a sério as horas marcadas, que elas se afinam pelo consuetudinário quarto de hora de atraso.

É como se os relógios tivessem uma sombra que os adultera. A projeção dessa sombra dita a hora certa quinze minutos depois. Se alguém redefinisse as medidas do tempo, adiando por quinze minutos o acerto dos relógios, um novo quarto de hora académico, o quarto de hora académico ao quarto de hora académico, seria inventado. O quarto de hora académico é convenção sem ser reconhecida como tal. Para não se correr o risco de acumular sucessivas camadas de quartos de hora académicos umas em cima das outras – e tudo ficar procrastinado, sem prescrição.

As autoridades que subsidiam a investigação podiam patrocinar uma demanda pela origem deste costume. Para saber quem inventou o quarto de hora académico e como se vulgarizou, dentro e fora da academia. E por que se adia a pontualidade pela medida sub-15. Mas talvez não seja do interesse dos académicos irem às raízes do quarto de hora académico. Primeiro, seriam eles os denunciantes de um costume que é lei de bronze no meio; os seus pares, entronizados no hábito dos quinze-minutos-depois, não perdoariam o saxónico dever de cumprir horários. Segundo, seriam eles a atestar que tudo está endemicamente atrasado. Com o atraso enraizado no quarto de hora académico.

Seria como definir a etimologia do vício incorrigível de não se cumprir o tempo tabelado. Se uma regra oferece quinze minutos para perorar, o orador ultrapassa o prazo e por largo excesso. Da mesma forma que não sabe acertar os relógios pela ausência do quarto de hora académico, não consegue respeitar a medida do tempo; é o quarto de hora académica virado do avesso. A metáfora da desorganização interior, de como é responsável por um arrastar do tempo que é a dilação incorrigível a que se presta. De dentro para fora, cobrindo, como hábito, um atraso. Estrutural.

A menos que alguém proponha o quarto de hora académico descontado do quarto de hora académico. Num ato de anulação que reponha os créditos (por firmar) da pontualidade.

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