Mãos à obra: mangas arregaçadas!
Que é de mangas arregaçadas que os braços desimpedidos se atiram à empreitada, sem o embaraço das mangas. As mangas tutelam a preguiça. Se os antebraços não estiverem livres das mangas que os protegem do frio, estão menos dispostos às obras que forem sua incumbência.
Se assim é, as mangas devem ser arregaçadas mais para trás, deixando todo o braço à mostra. Por maior que seja a extensão do braço sem o agasalho das mangas, maior é a entrega ao labor. Os empregadores que abusam do capitalismo suicidário ainda não se lembraram de estipular nos contratos que devem constar do dress code imperativo braços desimpedidos de mangas. Adivinham-se contendas emaranhadas com os sindicatos, que terão legitimidade para lamentar as más condições de trabalho por não ser aceitável que os braços dos operários fiquem nus durante o inverno. Chamar-lhe-iam, em linguagem bombástica, pornografia laboral.
A concertação social, tão empenhada em infundir equilíbrio nas condições de trabalho, esforçar-se-á por atingir um meio-termo que seja do agrado dos envolvidos. Será a manga arregaçada no sentido tradicional, só deixando o antebraço à mostra, a medida essencial para incentivar o trabalho razoável do operário sem o escravizar com a pornografia laboral. Como complemento, os sindicatos hão de exigir melhor climatização dos postos de trabalho, para que o simples desnudar do antebraço não seja pródigo em propagação de gripes e outros achaques respiratórios. Ficará por resolver uma pendência: como arregaçar as mangas dos que trabalham no exterior? Nos lugares onde o inverno morde com ferocidade, as mangas arregaçadas poderão levar à amputação de membros. Foi para isso que se inventaram as exceções às regras.
As mangas arregaçadas não podem ser um imperativo apenas para a força braçal. Os trabalhadores intelectuais também têm o seu metafórico arregaçar de mangas. Há que o regulamentar, para não privar da exigência uma casta de trabalhadores que não atravessa as asperezas a que estão expostos os trabalhadores braçais. Do imperativo das mangas arregaçadas não se podem dispensar os “altos quadros”, os gestores, os capitalistas que entraram com o capital sem o qual a empresa não existia.
Por um imperativo de igualdade: uma vez mangas arregaçadas, para sempre e para todos mangas arregaçadas.
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