9.7.24

1X2

Mdou Moctar, “Afrique Victime” (live on KEXP), in https://www.youtube.com/watch?v=q0lPeQA2hu4

Dizia o adágio popular: “preso por ter cão e preso por não ter”. 

Dizia-o, repetidas vezes, como se decorasse o guião de uma peça de teatro. Com medo que a pele ficasse obsoleta e as opções emagrecessem a um quase nada. “Dantes” – disse, resgatando uma memória – “levantavam-se consumições quando não sabia o que fazer entre as várias possibilidades que se cotejavam.” Era demais e o de mais esbarrava na decisão que não queria fortuita.

“Não era no totobola que se podia jogar na tripla? Mas era o máximo de três triplas, se a memória não me atraiçoa.” O que se foi lembrar! Ainda há totobola, agora que os tempos modernos multiplicaram a dependência do jogo por inúmeras fontes. Ainda sobrevive, o totobola? Quem apostava no totobola? 

Eram pensamentos reservados ao pensamento e que ecoavam à distância: o totobola, o convite para os apostadores ensaiarem uma profecia em causa própria. “Podias usar o método 1X2 quando te sobressaltam quase dúvidas existenciais sobre o que fazer, aonde ir, com quem não ser acompanhado – ou que mote usar sem escorregar nos lugares-comuns que fermentam a vulgaridade.”

Não parecia legítimo atuar como nas apostas triplas do totobola. A vida não é um jogo, por mais que se perca a noção de estarmos a jogar com a vida (própria, ou dos outros). Fazer 1X2 era parecido com a leviandade de quem não acautela as possibilidades que se terçam no tabuleiro, dedicando-se à perícia da indiferença. Era como forjar uma cura para um espinhoso problema e fingir que a cura não estava a ser forjada. Recusou a analogia:

“Se há três hipóteses e elas são diferentes, se têm consequências que podem ser opostas, não é indiferente a escolha. É preciso avaliá-las com critério. O método 1X2 é uma fuga para dentro. Uma não escolha. As três hipóteses são possíveis e parece que não têm diferenças. 1X2 é para os covardes que se dissimulam na penumbra da indecisão.” 

Era preferível a aposta única, apurando o critério da escolha, recusando as facilidades da aposta tripla. Quando se vai a jogo sabendo que ou se ganha ou se ganha, o jogo perde o sortilégio. E quem assim procede pode ser acusado de medrar num logro.

Sem comentários: