19.7.24

Não há elefantes brancos (teoria geral do otimismo)

O Homem em Catarse, “O Tempo Vem Atrás de Nós”, in https://www.youtube.com/watch?v=7wUtYvDlzic

(Carta aberta aos pessimistas previdentes)

Sabes que as profecias sobre apocalipses, e os prognósticos viciados no passado que conferem o desencanto do mundo, estão errados quando descobres uma expressão idiomática sem fundamento. Sobretudo se essa expressão é a expressão do desânimo encartado.

Os usos e costumes admitiram a imagem do elefante branco como representação de uma empreitada exorbitante que ficou condenada a ser um destroço erguido a céu aberto. Exemplos dessa megalomania, sobretudo pública, não são poucos. Obras sem justificação devido à desproporção entre a sua grandeza e a pequenez do lugar onde foram edificadas. Ou por terem haurido recursos muito acima do estimado, sem uma justificação convincente para tamanho gasto. Atribuir-lhes a imagem do elefante branco é sinalizar a dimensão excessiva, como imenso é o corpo de um elefante. A cor imaginada do elefante é branca, para se perceber que a empreitada megalómana é uma miragem que o futuro veio desmentir.

Não se pode dizer que não há elefantes brancos na natureza. Os caminhos próprios da genética admitem elefantes albinos. O que se desmente é a sabedoria comum (ou um erudito a quem foi atribuída essa responsabilidade) que fez corresponder o elefante branco a uma obra exagerada e inacabada. Já os elefantes brancos, por muitos encarados como uma excentricidade por serem um desvio genético, ainda têm de arrostar a representação, como metáfora, dessas obras ciclópicas que são monumentos à inutilidade. O elefante branco não é inútil, como os outros, metafóricos, elefantes brancos são.

Devia correr outra petição (entre as muitas, nessa – assim vulgarmente considerada – embriaguez de democracia direta) para revogar a metáfora do elefante branco. E ainda que alguns mais dados aos misticismos e à fobia da magia negra possam encomendar ao elefante branco o cunho de uma raridade que amedronta, nem assim se percebe a teimosia em estabelecer a correspondência. Aos elefantes brancos devia ser retirada essa carga negativa, para que não sejam eles a arcar com uma responsabilidade que só pertence aos visionários que foram autores de tais obras indevidamente alcunhadas como elefantes brancos.

E assim ficaria reposto um capítulo inteiro a favor do otimismo, por substituição de um capítulo no rosário do pessimismo. 

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