Os verdes anos eram quando a pele aguentava a excentricidade e tudo combinava com os excessos que venciam as medidas. Verdes os anos, eles o seu próprio combustível que, desembainhado em perspetiva, então parecia total. A mecha sempre acesa, o sono como contratempo que impedia a fruição da vida, e uma procissão de destemperanças que não deixava a carne tatuada pelo medo augúrio.
Quando são verdes, os anos são uma matéria porosa que não se acrescenta ao tempo. Chamam pelos nomes apetecíveis, arrumam num álbum de memórias apenas as que não sobressaltam a memória futura. Oxigenam a paisagem por onde passam, como passageiros que descobrem o magma fundente que é o nutriente da exuberância. O tempo arruma-se numa linha fina, como se os anos verdes se estendessem ao longo da sua armadura e não fossem por ele consumidos. Como se percorressem uma praia mais extensa do que soma dos oceanos.
Um salto no tempo: os verdes anos ficaram emoldurados como imagem espartana do tempo decurso. Deixaram de ser verdes. São anos apressados que devoram o tempo, como se o emagrecessem contra a própria vontade. O acosso da nostalgia ergue muros que embaciam o olhar. O apelo do tempo enquistado, como se fosse requisitado ao passado para se reproduzir no presente, é um embaraço que afasta o futuro do miradouro. Os verdes anos perderam todo esse viço, agitados a destempo, como se fosse possível a sedição da vontade contra as algemas que a imobilizam.
A boca abate-se sobre os fantasmas congeminados pelos anos que deixaram de ser verdes. O dorso curvado não é convincente para emprestar outra cor aos anos que se libertam da escotilha e interditam o olhar. As cores baças colonizam a carne esgotada, preparando outro adjetivo para os anos que são servidos no bornal do tempo havido.
Falta saber que cor adeja sobre os anos outrora verdes quando eles atingem o seu avesso. Os entendidos nas convenções articuladas ficam em silêncio. Ninguém é capaz de articular a cor que é o avesso do verde. Não escondem que são anos trespassados pela decadência, um túnel fundo que, de tão fundo, se perde na imaterialidade das sombras.
A decadência não tem uma cor atribuída. Não há avesso dos anos verdes.
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