17.7.24

Foi Wellington que inventou o bife com o seu nome?

Pond, “Neon River”, in https://www.youtube.com/watch?v=Bx17-K5fIXU

Há dias li que não foi Bulhão Pato que inventou as amêijoas cunhadas com o seu nome. Está em falta um meticuloso exercício de arqueologia gastronómica para descobrir quem inventou a receita e por que expropriou o nome de Bulhão Pato para a dar a conhecer. A paternidade é uma questão que não pode ficar presa nos detalhes. Façam-se os testes de ADN às amêijoas à bulhão pato – em jeito de (está na moda) petição pública.

Pelo mesmo andar, descobrir-se-á que o bife Wellington nada deve ao Marechal que, depois de atos de heroísmo em vários campos de batalha, chegou a primeiro-ministro de Inglaterra. À conta da História de Portugal, a Wellington devemos pesadas e significativas derrotas do exército francês que tinha invadido o país. Porventura, o bife Wellington faz parte do reconhecimento ao Marechal que ajudou a repelir os invasores e a preservar a soberania do reino.

Sendo a receita composta por um bife alto com um recheio de azeitonas moídas e pão ralado, aromatizado por vinho Madeira e envolvido numa cobertura de massa folhada antes de ser destinado ao forno, ao acepipe podia-se chamar “bife disfarçado”. O exercício arqueológico que se impõe deve procurar entender por que um bife assim fingido foi batizado com o nome de um herói de guerra estrangeiro. Se fosse nos dias em que estamos, dir-se-ia que o bife escondido numa armadura de massa folhada era uma homenagem aos serviços secretos (ou à “arte” do fingimento; só não se entendendo por que razão os espiões, por serem exatamente espiões, merecem uma homenagem).

Existe uma versão alternativa, já que se avançou em matéria de especulação: foi o apoio das tropas inglesas que ajudou o fraco exército lusitano a derrotar as tropas de Napoleão. Não fosse a diligência de Wellington e o território estaria à mercê das tropas invasoras, mais competentes e bem armadas. O país escondeu-se numa armadura. O que estava à mostra dos invasores era apenas uma cobertura gordurosa e, todavia, saborosa, escondendo a carne crucial. 

(A carne é a metáfora para a alma da soberania nacional.)

Em antecipação ao exercício arqueológico da gastronomia, fica, para memória futura, uma tentativa de desenredar o enigma: os franceses limitaram-se a morder a massa folhada e já não tinham forças para chegar à carne. Foi um truque de ilusionismo para enfraquecer os invasores, iludidos com o disfarce oferecido. Com a bênção do Marechal Wellington.

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