15.7.24

E se fôssemos todos atletas?

John Hopkins, “Ritual”, in https://www.youtube.com/watch?v=6nmwxYmg-Gs

Os filhos da pátria podem estar descansados, o futuro não é sombrio: teremos uma geração de atletas de alta competição, pois uma larga maioria de estudantes é avaliada a Educação Física com dezanove ou vinte valores. Desmentidas ficam as teorias apocalípticas que tendem a provar que somos sedentários, com grande prejuízo para o serviço nacional de saúde e para a angústia dos entes queridos que frequentam as exéquias de familiares cuja vida foi seccionada pelo gume da doença.

As gerações que andam, ou andaram recentemente, na escola vão ser ao contrário. É gente que recusa o sedentarismo, tem porte atlético e um desempenho desportivo acima da média. Com tantos portentos físicos e na prática de variegados desportos, não só a média do porto atlético é pontapeada para níveis estratosféricos, como a pátria, tão envaidecida com proezas desportivas (para compensar outras fragilidades), fica com uma matéria-prima humana cheia de potencialidades desportivas.

Afiguram-se muitas medalhas nas olimpíadas e noutras competições internacionais e a proliferação de génios mundiais em várias modalidades desportivas. A pátria não tem memória de uma geração tão possante, de tantos serem os que cultivam o lema olímpico “citius, altius, fortius”. As poupanças futuras no serviço nacional de saúde, à conta de gerações que tão bem cuidam da sua saúde física, já podem começar a ser gastas por conta – por exemplo, para chegarmos aos 2% do PIB na tropa como foi prometido pelo primeiro-ministro, para gáudio de generais e dos capitalistas que alimentam a indústria da defesa.

(Ligando os dois assuntos: pode-se especular se tão diligente preparação de uma genealogia de atletas medalháveis será em vão: se os gastos em armas trouxerem a beligerância geral, alguns desses jovens nunca poderão provar as medalhas que teriam conquistado para a nação, desviados que serão para os campos de batalha e prematuramente, muitos deles, para cemitérios.)

Todavia, a teórica fabricação de atelas em barda não condiz com o observatório em que estamos. A maioria dos jovens tem propensão para a obesidade, talvez por se empenhar tanto nas delícias (de acordo com eles) do fast food. Como pode gente tão obesa ter uma atlética condição (demonstrada pelos sistemáticos dezanove e vinte valores com que são corridos a Educação Física), é algo que deve merecer o estudo atento de sociólogos, detetives e apuradores de verdades.

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