14.10.25

IX

Linda Martini, “Juventude Sónica” (ao vivo), in https://www.youtube.com/watch?v=lAu5z-Wc28I

Todos os porcos chafurdam na sua poça de lama. Nós, ao invés, vegetamos numa "Mudtown". É mais chique, ou não fosse dito em inglês, a língua franca. Era assim que me encontrava: abespinhado pela recorrência com que as pessoas se socorrem da língua franca, desperdiçando a oportunidade do idioma mátrio, despedaçando-o. E não coincidia com o sossego da minha alma, pois não enjeitava o inglês como língua franca quando se justificava que fosse a língua franca.

As pessoas escorregam para a língua franca porque vaidosamente querem exibir um naco de erudição, ou porque consomem tanta cultura anglo-saxónica que se destreinam do idioma mátrio. Só falta aceitarem que se reinventa a sua identidade, como se a partilha de línguas fosse às origens da identidade para se aferirem por uma nova bitola. E lá estava eu outra vez preso a um interno paradoxo: quem me ouvisse dizer as palavras acabadas de dizer adivinharia que não sou cosmopolita, que até serei um desses reciclados nacionalistas que emergiram pelo desalfandegar da vergonha de ser nacionalista.

Volto uma casa atrás: há uma terceira possibilidade que explica o recurso sistemático ao inglês: as pessoas desinibem-se ao usar palavras em inglês que, se fossem ditas em português, seriam trava-línguas (pelo menos para os mais púdicos). Continua a ser menos penalizador para certas consciências dizer “fuck” em vez de “foder”. O preciosismo idiomático seria dispensável se o lugar-comum não tivesse colonizado estas palavras e não lhes tivesse imputado a obscenidade. Dizer “fuck you”, ou mandar alguém “foder”, parece injurioso. Só se o sexo estiver em baixa na bolsa dos valores das necessidades humanas – e talvez o sexo seja maltratado, ora porque é tomado por pulsões individualistas, tornando-se uma mera representação de um onanismo com ajuda alheia; ora porque são pulsões exageradamente altruístas que esvaziam o sexo por dentro. As pessoas não se deviam esconder. Do idioma em que aprenderam a falar. E do sexo.

Provavelmente, é descabido coser este parágrafo com o anterior se voltar ao início da conversa. Tu me dirás, querido diário, se não vou transgredir as convenções e magoar uma necessidade biológica, sendo este mais um contributo para a ofensa do sexo. Pois há muito sexo que anda associado ao que metaforicamente são os suínos. O que não é desqualificativo. Provavelmente, somos reféns de uma “Mudtown” quando o corpo segue o que instintivamente o desejo ordena. Perdendo um autocontrolo tão do agrado dos sacerdotes da moralidade (aqueles que, com muita probabilidade, escondem uns fantasmas que os desqualificariam para a teima de serem juízes dos costumes alheios). 

Só se aceita que o sexo seja tangente a uma condição suína se os cânones ainda forem ditados pelas algemas mentais católicas ou de outros credos que também desconfiem do sexo. As pocilgas mentais habitam nos labirintos onde se tecem aqueles que desconfiam do sexo ou que dele fogem por imperícia.

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