Ladytron, “I See Red”, in https://www.youtube.com/watch?v=72A9nFNhdOM
“Rules and regulations”. Havia um peticionar geral de regras, condutas, leis, normas, regimentos, códigos, regulamentos, portarias, estatutos, mandamentos – havia uma impressão não difusa sobre a atalaia a que as pessoas se entregam voluntariamente, capitulando, sem darem conta que de uma capitulação se tratava através de um paternalismo eufemista.
Precisam de quem lhes aponte o norte. Não satisfeitos por dependerem de uma entidade que lhes desenha a rota, eram ainda mais exigentes: queriam que essa entidade os condenasse à estreiteza dos corredores por onde seguiriam, só para não terem de escolher; só para abdicarem do livre arbítrio e, como paga, não terem o dever de ser assaltados pelas temíveis incógnitas que são a pontuação quotidiana das suas vidas, se não suplicassem por esta subtração da própria liberdade.
Apetecia especular sobre o devir em caso de erosão e posterior abate de todas as regras e regulamentos. O que seria dos outros se eles andassem errantes, trespassados por uma orfandade social, desesperadamente à procura de um bastião onde se pudessem refugiar e não o encontrassem?
Dizem, os apóstolos deste estado de coisas, que se somos gregários, se nos habilitamos à convivência com os demais porque sozinhos somos apenas almas erráticas e despojadas de sentido, devemos procurar leis sistematizadas ou não, mas de preferência organizadas, para se organizar a convivência com os outros. Estamos neste estado comatoso, que não é assim reconhecido pelos mendicantes das regras que se oferecem como cimento para não sermos trucidados pelo majestoso comboio onde já embarcou mais do que uma mera amostra da espécie. O patíbulo está cheio destas nobres intenções que, todavia, se estilhaçam num peito que permanentemente suplica pela liberdade que agora se nega.
Os que tanto precisam de leis e regulamentos são os primeiros a desconfiar da natureza humana. Não venham orquestrar amanhãs impermanentes, assobiando um tempo vindouro massacrado pelo indeterminismo. Não se escondam num idioma sem paradeiro. Não peçam essa trela afocinhante que dá pelo nome de leis e organização social (ou lá o que é). Não se congeminem na anulação de si mesmos, inebriados pelos costumes que os olham através de um periscópio, enquanto um escol se deleita a observar a dependência em que se consumem. Sem saberem – ou, talvez, apesar disso.
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