13.10.25

VIII

Sonic Youth, “Silver Rocket”, in https://www.youtube.com/watch?v=viF12Mu3-5w

Lamentava-se que houvesse tanto “wrongdoing” em órbita. Quem acusava parecia isento de fragilidades. Os outros, observados desde a posição sobranceira dos acusadores, eram frágeis almas que erravam por sistema. Erros atrás de erros, erros em cima de erros, uma cordilheira acidentada onde se inventariavam os erros. A constelação de equívocos dizia que não há tirocínio que compense as dores dos erros: se os erros se atravessam na linha contínua do tempo, é sinal de que não extraímos deles a pedagogia que contêm.

As pessoas continuavam a ser delatadas pelo seu “wrongdoing”. Eram isoladas, como se fossem aberrações encomendadas ao estatuto de párias – pois os demais, os que se envaidecem de serem delatores, nunca terão tropeçado em erros. Lamento mais os delatores do que as frágeis almas que insistem em tolejar. Mesmo que o tolejar seja intencional; um proverbial otimismo, um otimismo de refúgio ao mundo circunstante, recusa-se a crer que o erro é intencional. 

Pela maneira de ver dos síndicos do equívoco alheio, não importa admitir os erros próprios. Essa é a representação de dores interiores, uma consumição que só lhes diz respeito. Se esses erros conseguirem escapar à fiscalização de outros olhares síndicos, só os próprios é que deles tomam conhecimento. Para os olhares exteriores, são erros que não aconteceram. E, todavia, aconteceram. Já os erros que saltam para os olhares públicos são implacavelmente perjurados. Os erros ocultos não deixam de ser tão erros como os que chegam ao conhecimento público. Um olhar de atalaia faz a diferença. 

Os erros que vierem na rede são anatomizados, endossando ao seu agente um lugar de humilhação que se soma ao desprazer do próprio engano. Serão julgados por pessoas tão humanamente frágeis como eles. Também propendem para o erro, mas escondem-no da curiosidade alheia. Talvez se encham de contentamento por saberem que os seus erros ficam à margem dos olhares síndicos. Talvez se cubram de legitimidade para assumirem o papel de síndicos dos erros alheios. Como se, através da sua denúncia, expiassem os seus próprios erros. 

Esta é uma peleja acriançada. O erro é a nossa circunstância. Os que se atiram com desdém aos erros dos outros são os que pior convivem com os erros próprios. Não me envergonho dos erros que deixei em pegada. Não me escondo dos erros que estão nos planos do futuro. Sei dos erros e deles não fujo.

Sem comentários: