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Vamos falar das coisas simples.
Coisas simples. As mais difíceis de todas.
Um amontoado de toalhas
encardidas que esperam por vez na lavagem. O chilrear das andorinhas
extemporâneas que emprestam um ar de primavera ao coração do inverno. O mar em
furiosas convulsões, ou apenas o mar e o seu odor. Uns olhos de feiticeira. Os
semáforos que se põem todos em verde modo à passagem do carro. As framboesas
que exultam a cor garrida numa banca do mercado. As crianças que se entretêm na
algazarra de quem não supõe, nem em pesadelos, o que as espera quando se
abeirarem da adulta idade e a inocência se diluir numa nuvem branca. Ah, a
reputação – e para que serve a reputação? As coisas que se adoram, frágeis e
banais, o rosto ruborizado pela vergonha dos despropósitos acidentes de
percurso.
Ou sonhos, apenas sonhos. Tanto
faz: dos sonhos comandados pelo sono, o planalto onde o onírico se embebe nas
suas fantasias sem freio; ou dos sonhos que se sonham com os olhos abertos, na
inércia do tempo rasante que despenteia as ideias em sobressalto interior. Uma
mão amiga repousa no ombro aquecido pelo sol invernal. Uma mão amiga emaça os
castelos no ar que se sobrepõem à contagem dos pássaros que faziam voo picado ao
desprevenido peixe escondido na espuma do mar. Aquela mão que se demorou era um
alívio.
Dentro dos vários castelos no
ar, apenas com um habitante, os pés saltando de nuvem em nuvem entre os
castelos emparelhados. Do alto, tudo cá em baixo tinha uma pequenez que cevava
as afeições. Os castelos no ar, refúgio só de uma pessoa, anestesiavam do
resto. Se eram sonho ou se desembainhavam para além dele, o que interessava?
Podiam os dias de alvoroço tingir o céu de negras nuvens, que em volta dos
castelos pacientemente estacionados no ar sobejava um clarão.
Lá, onde não entravam
tempestades teimosas.
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