21.5.12

Quem quer ser espião?


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A culpa é do ministro todo-poderoso, o que tem nome de campo de golfe. Perdeu a cabeça e ameaçou uma jornalista. Para tornar a ameaça mais credível, esbracejou com a divulgação de segredos da vida pessoal da jornalista. Só podia ordenar aos espiões da república que devassassem a vida da senhora de cima a baixo – de outro modo, como saberia ele desses detalhes da vida da jornalista?
Que só os néscios ainda acreditam na pia república, e que esta lengalenga do “Estado de direito” e do respeito pela privacidade dos cidadãos não passa disso mesmo, lengalenga, já era sabido. Desta vez deu para ficar ainda mais atónito: então os espiões não espiam lá fora, os inimigos que só existem na fecunda imaginação de quem acredita que esta é ainda pátria relevante? Não, os espiões têm missões mais comezinhas. Não tratam dos segredos de Estado; metem o nariz onde não são chamados, na intimidade, se preciso for, de simples pessoas quando isso aprouver aos todo-poderosos ministros.
Deitei-me uns minutos a tentar adivinhar a vida muito interessante que um espião leva. O mal é que o romantismo do 007 é uma lábia. Haverá quem se aliste na carreira de espião encantado com a conjeturada vida faustosa e embebida em glamour? É que se trata de arriscada carreira, mas no fim os filmes acabam sempre bem – por que não haveriam de assim terminar na vida real, homessa? E, já agora, existe uma carreira profissional de espião? Podem os ditos cujos apresentar-se em público como tal? Alguém imagina um espião a preceito dos estereótipos, gabardina com as golas levantadas para obscurecer a identidade, olhares de soslaio em constante desmultiplicação, desconfiança a rodos a responder à interrogação “qual é a sua profissão?” num consultório médico, numa repartição pública, ou num notário, sussurrando “espião, mas não diga nada a ninguém”?
São tão anónimos, tão anónimos, que nem sequer sindicato podem ter. São a casta dos desfavorecidos. Coitados: nem à consorte podem dizer o que fazem na vida.

1 comentário:

ClaudiaR disse...

Como dizia a rábula do Solnado: 'tinha uma prima que era espia - chamavam-lhe a Mata Hari. Um dia espreitou por uma fechadura, sopraram do outro lado... agora chamam-lhe a zarolha!'.
Até que estes problemas de olhinho não são uma má praga para cuscos e espiões de pacotilha!! Já agora, sopro com tinta, ou alcatrão e penas... para transformar a oportunidade num constrangimento ;)