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Foguetes pela noite, nariz apontado
ao céu, os olhos encantados pela crisálida de cores que acompanha o ribombar. E
não damos conta do chão que pisamos. Das pedras, se estão sujas, se são
praticáveis. E não damos conta das horas que vão em cima do tempo. Os anjos
alados são zarapelhos fantasiados (de anjos). E nós, distraídos, açambarcados
pelo devaneio que empresta um certo ar celestial (ou, dir-se-ia, onírico?), nem
chegamos a medir a cauda melíflua que se destapa, descuidadamente, no convés da
fantasia de anjo.
Nem com chapéus. Nem com chapéus
lá vai – as cabeças sempre aéreas, as palavras ditas pelos outros que soam a
nada, como se entrassem num ouvido em canal direto para o outro à velocidade do
som. Depois acusam-nos de insultarmos, com a nossa apatia, quem nos diz as
coisas que seriam tão importantes e que em nós apenas soaram a silêncio. Parece
que há um mundo – melhor: um universo – que pertence apenas a nós. Somos seus
condóminos exclusivos. Refinamos as antenas dos sentidos e aterramos lá, nesse
sítio reservado às nossas exclusivas existências. Levitamos. A atmosfera faz
lembrar as imagens de alunagens e de como os astronautas ensaiavam coreografias
em câmara lenta. Mas a nossa levitação não é em câmara lenta.
Das árvores, uma melodia de
perfumes. Os frutos abundantes, em cores garridas, emprestam outros, adocicados,
odores. Nunca está frio e nunca está calor. É dia quando nos apetece. Faz-se
noite quando o cansaço sussurra aos ouvidos e um gesto espontâneo desce as
persianas. Não há relógios. Nem calendários. Não há trabalho nem serventia de
férias. Ora pintamos, ora apreciamos o mar lânguido, ou as ondas que cavalgam
na sua fúria quando o mar de fundo chega, grandioso, à praia. Ora fazemos
poesia. Mas sempre sem planos nem horários.
Dizem que somos párias. Que
interessa? Antes cabeças no ar que gente enfadonha e muito encalacrada na
seriedade do real.
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