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Não eram umas mãos como outras
quaisquer. Não eram uns olhos vulgares – e, todavia, tinham a cor mais vulgar
que uns olhos mediterrânicos podem ter. O cabelo, abundante e cerdoso, vinha
molhado. (O banho tinha sido em vésperas desses minutos.) Havia elegância, um andar
gracioso pelo corredor fora. Um passo que, só de o escutar, já era identidade.
Os lábios, apetecíveis, dedilhavam palavras numa voz doce. Eram uns minutos
breves que ecoavam como horas.
E, contudo, as palavras trocadas
não conseguiam romper a fasquia do banal. Era um bloqueio mútuo. As conversas
ficavam reféns de um particular interesse comum. Tudo se passava como se uma
fasquia se afivelasse tão alta que os corpos renunciavam ao ensaio de a
superar. Em instantes que derrotavam a timidez, os olhares cruzavam-se num esboço
de cumplicidade. Como se os olhares se substituíssem às palavras que ficavam à
boca de cena, das palavras que queriam a sua combustão espontânea mas capitulavam
nas hesitações, nos medos que adejavam com o sorriso facínora dos fantasmas.
Podia ser que as palavras que
tropeçavam em silêncios forjados fossem uma mensagem subliminar, a antinomia de
dois sujeitos. Podia ser que o atilho que deslaçava os sentidos, que julgara
sepultado nas margens pantanosas da juventude, viesse outra vez assombrar os
dias de agora. Ou podia tudo querer dizer que havia uma cautela como não
houvera jamais, a demanda de uma depuração dos sentidos que vinha na vez da
impaciência que nunca deixara desaguar em águas calmas.
Os possíveis sentidos
entrecruzavam-se diante dos olhos. Fundiam-se na atenção das coisas restantes.
Às vezes, havia um impulso para o passo que julgara faltar. Logo reprimido pelo
frémito que transtornava a clareza do raciocínio. Talvez fossem ambas as
coisas: a sede de não cavalgar no arrependimento; e uma intuição. Talvez
enfeitiçado, e talvez por essa razão, metia travões aos instintos. Porventura
pela primeira vez. Ou devolvendo à terra recalcamentos que julgara extintos.
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