14.5.12

Um pouco de mundo


In http://madeiratravelnews.com/wp-content/uploads/2011/06/aeroporto-placard1.jpg
Daquelas interrogações que nem deviam ecoar nos corredores do pensamento: o que se faz com a falta de identificação com o lugar a que convencionámos chamar a nossa terra?
A pergunta sai da letargia quando há uma viagem. Nem que seja para um lugar que não é longe da casa deixada para trás. Mesmo que seja um punhado de dias. Banhar no mundo que se oferece assim que os pés assentam no chão do aeroporto, com o bulício dos aeroportos. Diria tratar-se de um novo oxigénio que põe ordem nos equinócios do corpo.
Talvez seja um imperativo: a monotonia do mesmo lugar instala um cansaço dele. É altura de mudar de ares. Ao chegar ao lugar diferente, distante ou nem tanto, o banho de mundo é revigorante. Tanto faz que seja um lugar nunca dantes visitado, ou um lugar a que já se fora. O ar respirado tem uma espessura diferente. As pessoas que andam na rua não têm os rostos fechados e antipáticos, nem a boçalidade que morde através dos silêncios sorumbáticos. Os estranhos lá de fora são menos estranhos que os indígenas.
Se acontece o lugar visitado ser um ninho cosmopolita, tanto melhor. São um bálsamo, as muitas pessoas embebidas em muitas diferenças constantemente a passar. Uma amostra da biodiversidade. Os olhos aprendem, sentem o pulsar das culturas que são diferentes, da biologia que enxertou tantas diferenças na pele, nos rostos, no cabelo, nos hábitos alimentares, nas línguas mais indecifráveis que passam pelos ouvidos. As fronteiras provam-se na sua inutilidade.
Depois de nos banharmos na amostra de mundo, por uns escassos dias que seja, já apetece retornar ao que se convencionou chamar a nossa terra. Um metódico travão na existência perene da nossa terra que se impõe. Mas a disposição para o outro quando as outras terras se oferecem na sua generosidade faz pensar. Se não há desidentificação com o lugar a que pertencemos.

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