29.5.12

Pérolas a polvos


In http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/ab/Polvo.JPG
As cartomantes, quiromantes, bruxas (montadas, ou não, em vassouras), catedráticos de mezinhas e outros que tais, se andassem atentos já tinham protestado. Aproveitavam para montar no enternecedor humanismo que ensina a superioridade da espécie humana sobre os demais animais (remetidos à condição de bestas). É que em véspera de internacional certame do futebol, o Sealife teve a pouco original ideia de meter num aquário um polvo vidente para se deitar a adivinhar os resultados da bola.
Se eu fizesse parte daquela classe de profissionais esotéricos, nem dormia de tanta preocupação. É concorrência desleal. Se a moda de há dois anos pegar, quando meio mundo se convenceu que um polvo alemão tinha dons premonitórios, vai andar esse meio mundo maluco atento ao oráculo do polvo do aquário. Coitados dos atletas. Nem os quero imaginar a lutar contra insónias em vésperas da transmissão do auspício do polvo sufragado – pois agora a inventividade foi ao ponto de registar em imagens de televisão (e em direto) as voltas que o cefalópode der antes de escolher a bandeira agraciada pela vitória. Com a algazarra que por aí anda, esse momento televisivo fará estourar audiências. E não sei se é um exercício justo: suponham-se os tremeliques dos atletas da equipa fadada à derrota pelo presciente polvo. Assim o certame perde a graça.
E eis-nos nas mãos (errata: nos tentáculos) de um cefalópode. A tanta algazarra, a que não sei se é autorizado chamar superstição (alternativa simpática) ou estultícia (com os pés mais no chão, esta alternativa), serve duas lições. Primeira, o menos irracional de todos é o polvo entronizado. Segunda, ao menos as cartomantes, quiromantes, bruxas diversas e catedráticos de mezinhas mil não acabam no prato dos comensais depois de estágio no forno em cama de azeite de primeira e batatas pequeninas prontas a serem esmurradas. 

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