In http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/ab/Polvo.JPG
As cartomantes, quiromantes,
bruxas (montadas, ou não, em vassouras), catedráticos de mezinhas e outros que
tais, se andassem atentos já tinham protestado. Aproveitavam para montar no enternecedor
humanismo que ensina a superioridade da espécie humana sobre os demais animais
(remetidos à condição de bestas). É que em véspera de internacional certame do
futebol, o Sealife teve a pouco
original ideia de meter num aquário um polvo vidente para se deitar a adivinhar
os resultados da bola.
Se eu fizesse parte daquela
classe de profissionais esotéricos, nem dormia de tanta preocupação. É
concorrência desleal. Se a moda de há dois anos pegar, quando meio mundo se
convenceu que um polvo alemão tinha dons premonitórios, vai andar esse meio
mundo maluco atento ao oráculo do polvo do aquário. Coitados dos atletas. Nem
os quero imaginar a lutar contra insónias em vésperas da transmissão do auspício
do polvo sufragado – pois agora a inventividade foi ao ponto de registar em
imagens de televisão (e em direto) as voltas que o cefalópode der antes de
escolher a bandeira agraciada pela vitória. Com a algazarra que por aí anda,
esse momento televisivo fará estourar audiências. E não sei se é um exercício
justo: suponham-se os tremeliques dos atletas da equipa fadada à derrota pelo
presciente polvo. Assim o certame perde a graça.
E eis-nos nas mãos (errata: nos
tentáculos) de um cefalópode. A tanta algazarra, a que não sei se é autorizado
chamar superstição (alternativa simpática) ou estultícia (com os pés mais no
chão, esta alternativa), serve duas lições. Primeira, o menos irracional de
todos é o polvo entronizado. Segunda, ao menos as cartomantes, quiromantes,
bruxas diversas e catedráticos de mezinhas mil não acabam no prato dos
comensais depois de estágio no forno em cama de azeite de primeira e batatas pequeninas
prontas a serem esmurradas.
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