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Os olhos, desatentos, demoram-se
no restolho de onde colhem o bolor da existência. Dir-se-ia, os olhos conferem
à existência a sua própria miopia. E desta miopia vêm, diáfanos, os dias que se
mitigam na sua monotonia. Os olhos deviam apenas consagrar os sedimentos do que
apimenta um orgulho.
Porque não são as dores que
fornecem nutriente. Dessas, resgata-se a indiferença, como se elas apenas
adestrassem a covardia que recusa a existência que se merece só por termos a
dádiva de uns olhos observadores. Devem recusar as anestesias, que o tudo que
conseguem é aldrabar outras dores que se esmagam contra o peito em ferida. Não
há mercê de as negar. Os sobressaltos que traduzem os dias plúmbeos não são uma
totalidade. O segredo é transformá-los em pequenos atóis, acantonados a uma
coutada inacessível ao pensamento. Porque, entretanto, os tão observadores
olhos souberam reluzir com as pequenas coisas belas transformadas em largos
continentes.
A terra onde tantos oxalás se
proferem não passa de uma promessa de que não se cuida realização. Oxalás que são intenções entoadas em forma de prece. Esgotam-se na inércia que se compõe
logo a seguir. Tudo se faz de conta, até o sono intuído em voo plácido que
consome a noite. Quando tudo assim acontece, é a capitulação. A fatal
capitulação. O porvir será um simulacro.
Há um método imperativo (para os
que não querem sucumbir à letargia letal): esquadrinhar entre as pedras,
remover as poeiras desatentas, olhar entre as sombras do luar, decantar as
palavras de um poema, dissecar as entranhas de uma música ou de um quadro,
demorar o olhar na imberbe inocência das crianças azoadas em plena brincadeira,
deter os olhos na coreografia do mar, ou subir ao promontório e sorver, à forca
dos plenos pulmões, todo o ar fresco sussurrado pelas montanhas.
O dia seguinte será uma alvorada coberta de ouro e pétalas
perfumadas.
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