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Era
muito tímido. Acho que me apaixonava três, quatro vezes por dia, Mia Couto, entrevista ao “i”
A pedra tumular das
incongruências? Nas palavras que se abraçam em frases desligadas. Um tímido que
se apaixonava três ou quatro vezes ao dia só pode ser volúvel. Um doidivanas
inconsequente, as hormonas em constante ebulição dos sentidos a cada donzela donairosa
que, lânguida ou não, desfila diante dos olhos. E os olhos em combustão
permanente, atirando vapores em sinal das febres que ruborizavam o corpo. Logo
viriam os cordatos sacerdotes da decência interpelar a esquizofrenia da paixão.
Atentado contra os costumes. Nem que fosse pela tenra idade, ou pela inocência
de quem está embebido do tirocínio da existência, a decência admite tais
preparos. Homessa, pode lá um homem a sério tantas vezes se enfeitiçar ao dia
por diferentes mulheres?
Ou podia apenas ser de uma
generosidade desarmante. O escritor mostrando a sua enorme alma, bem maior a
estatura do que a pequenez providenciada pela genética. E pode tamanha grandeza
ser desaproveitada? Não deve. Os amplexos e os ósculos em diferentes donzelas
eram ato de entrega, o sublime altruísmo de quem distribui as cores avivadas de
uma paixão incendiada por uma alma maior. Um serviço em prol da humanidade.
Quem pode reprovar tanta generosidade? Se é para captar à letra as palavras desembainhadas
pelo escritor, só lhe faltou não ser prisioneiro da timidez para arregaçar
mangas às intermináveis conquistas.
Só lamento que este seja um
lugar repleto de comportamentos sem fio condutor. Os dois pesos para a mesma
medida. Soube-se que o autoproclamado arquiteto mor da revolução de abril vive
em declarada bigamia (com o consentimento de ambas as consortes) há um ror de
anos. Os habituais apaniguados, mais uma seita habitualmente condescendente com
as traquinices do “Óscar” (nome de código), derreteram-se no romantismo da
confissão passada a biografia. Fosse um mortal comum, sem direito à
complacência acrítica, e a lapidação em praça pública sentenciada já teria
sido. Sem recurso admitido.
As complexidades da alma
feminina sobram para dispensar o desdobramento das paixões.
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