In http://www.abola.pt/img/fotos/mundos/lusa/confusaoPingoDoce.jpg
(Depois de uma prudente digestão
dos factos)
Foi um golpe de Estado? Vai
haver guerra e ninguém foi avisado? Vem aí um furacão desviado da rota habitual
(Caraíbas) e a populaça abasteceu-se de mantimentos para umas semanas de
clausura? Ou, em antecipação da morte do euro (ou da nossa saída dele), as
pessoas foram às lojas antes que a moeda que viesse depois (o escudo, ou –
porque não? – o Camões) depauperasse os bolsos e ficassem no sopé da faminta
condição?
Tudo tiros ao lado. Foi o Pingo Doce que, à socapa, presenteou o
povaréu com descontos caídos do céu (50%). As televisões passearam-se entre o
caos dos supermercados, os ajuntamentos que desafiavam os cânones da lógica, a
devastação das prateleiras esvaziadas como pano de fundo. O problema –
dir-se-ia: a heresia – é que a manobra publicitária boicotou o primeiro de
maio. Primeiro, tinha sido convocada greve do sector e os trabalhadores
boicotaram o boicote dos sindicatos à abertura dos supermercados em dia que
(dizem os sindicatos) devia ser de sacrossanto descanso laboral. Depois, os
sindicatos, e as esquerdas em geral, estão convencidas que o golpe de asa
publicitário desviou as massas das manifestações que celebram nas ruas o dia do
trabalhador.
(Tenho cá para mim que as
retirou das romagens aos centros comerciais.)
Estava-me nas tintas para o
golpe de asa publicitário. Era o que mais faltava incomodar o sossego pessoal
deitando os ossos horas a fio em filas intermináveis para pagar os víveres a
preço promocional. Quem teve paciência gastou-a nas horas de espera e com
alguma gente incivilizada que desviava produtos do carro de compras do vizinho
e se metia em altercações com outros clientes. Deixei de estar indiferente quando
esbarrei em muita malta das esquerdas a destilar ofensas por todos os poros
pelo ato grotesco do Pingo Doce. Ora,
não são as esquerdas que têm o monopólio da defesa dos desvalidos? Não são
elas, e só elas, que cuidam dos interesses das classes desfavorecidas e do seu
bem-estar? Afinal andávamos todos enganados.
Em jeito de remate: era o que
mais faltava as esquerdas espremerem a sua pesporrência para darem lições de
ética. Merecem, contudo, o benefício da dúvida: coitadas, pareciam baratas
tontas. É compreensível que tivessem escorregado para o chinelo.
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