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Suas eminências, sumidades
altivas, peroram a ciência inelutável. Eles são as cátedras de onde esbofeteiam
no cidadão comum toda a infinita sabedoria. Não reprimem pesporrência, que
sempre lhes assenta como credencial da muita autoridade que assoma com a caução
do intelecto. Passeiam a sua majestade, um olho de soslaio acompanhando o
ouvido matreiro, o tísico ouvido, em demanda de comentários de nefelibatas que têm
o topete de incomodar as pardas eminências.
E ai de quem saia da linha e
seja maroto. Ai de quem se não lhes dirija na pose humilde, sempre de cabeça rebaixada
ao solo, que os olhos não se podem cruzar com a refulgência que procede dos
olhos que contagiam sabedoria. Estes, como se fossem os lacaios de um outrora
desgastado pela demência da incivilidade, são desprezados pelo desdém que
cavalga na nuvem onde campeia a ciência a rodos de que se dizem tutores. Quando
é preciso, para deixar uns aspirantes reduzidos a uma chorosa insignificância,
esbracejam erudição e uma semântica arcaica. Os desprevenidos ficam atónitos,
tanta eloquência junta. Ele há melhor maneira de aferrolhar as credenciais da
sapiência?
Mas depois, quando num depois
qualquer, um épico personagem teima em perguntas que incomodam, a erudição desfaz-se
na cortina fina da impassibilidade. Os olhos raiam-se de nervosismo, o rosto
enrubesce destilando fúria por ser questionado, só faltavam as fumarolas
pentear o cabelo espigado pela fúria estouvada. Os cabeçudos acantonados no seu,
afinal, saber esparso. O abencerragem improvável disparara perguntas umas atrás
das outras. Encostara um dos habituais cabeçudos às cordas. E quando ele já
espumava de raiva, cuspindo verdades embutidas nas certezas que a catedrática
pose cauciona, desfaleceu.
Veio-se a saber no dia seguinte.
Primeiro, à boca pequena, depois numa estafeta da palavra que depressa
contagiou os que andavam pelas tertúlias bem cultivadas. O cabeçudo-mor tinha
disfarçado o achaque. Raposa velha, levou o pleito de vencida por desistência
da função. Os assistentes atiraram-se que nem mastins ao jovem aspirante. A antiguidade
é um posto.
E assim se joga ao jogo das
verdades faz de conta (ou ao faz de conta que é verdade).
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