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Os papões, essas míticas
personagens que antolham o sono dos meninos, convertendo-o em pesadelos que
terminam em terrores noturnos. Malévolas personagens embebidas na pureza do
mal, ungidas pela saliva do fel. São vampiros que se saciam no sangue de toda a
gente, a gente possuída por enternecedora ingenuidade que é auspício da sua
própria sepultura.
E, todavia, diante dos sinais
tão claros das maldades praticadas todos os dias pelos melífluos que mergulham
na sua abastança, o povo inerme consente. Valem-nos caridosas e mui vigilantes
almas que correm o risco de extinção física por serem delatores das
conspirações congeminadas pelos fautores de todos os males. Ao não fermentamos
a insubordinação, retirando do poder os que se deixam corromper pelos lóbis
financeiros, os voluntários da bondade ficam reféns da nossa apatia.
Dois nomes juntam-se à
narrativa: Goldman Sachs (GS) e Domingos Ferreira. No Público da sexta-feira passada, o segundo denunciava a primeira. O
libelo acusador vinha em meia página de opinião. E que terríveis maldades são
imputadas à GS: manipulação de mercado, enganando investidores que apostaram no
sentido errado só para a GS recolher lucros montanhosos; jogar com as vidas das
pessoas que lançam no desemprego, como resultado dos lucros que lá continuam a
aumentar; especulação com matérias-primas, com o pecaminoso, milionário lucro
na mira; complô com agências de rating
para deixarem certos países à beira da apoplexia, fragilizando-os ao ponto de
terem de privatizar empresas apetecíveis ao preço da uva mijona; cumplicidade
com os governos e as organizações internacionais, infiltradas de cima a baixo
com toupeiras metidas pela GS.
E tudo isto perante a
passividade do povo, que continua a encolher os ombros e a escolher os mesmos
que se dizem pagos a soldo de ouro (mas debaixo da mesa) pela GS. É o novo
império do mal. E eu, talvez muito ingénuo, continuo sem conseguir acreditar
como pode tanto mal reunir-se numa entidade só. Como pode a GS mandar no mundo,
contra o mundo e a favor do seu enriquecimento cada vez mais milionário, com o
preço da fome e do desemprego e da pobreza dos demais.
Mas a minha muita ingenuidade não
é tanta ao ponto de crer em mitologias. Elas são isso mesmo, mitologias, porque
são improváveis (no que a palavra remete para impossibilidade de provas).
Aguardo que Domingos Ferreira ofereça provas das travessuras da GS.
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