Muitas acusações têm sido feitas à liberalização do mercado dos combustíveis pelo clima de alta de preços a que temos assistido nos últimos quatro meses. É sintomático do sentir nacional e dos preconceitos a que certos sectores teimam em estar agarrados.
Por um lado, é o testemunho vivo de como o empresário ainda está preso à mentalidade salazarista que defendia a necessidade do Estado proteger determinados sectores económicos. A larga maioria dos empresários nacionais, independentemente da sua dimensão, persiste no erro. Continuam a insistir na protecção do Estado, qual entidade proto-divina que, num assomo paternalista, tem que descair a mãozinha protectora sempre que o jogo concorrencial não é favorável. Já estamos habituados às lamúrias e queixumes, num jogo perverso que é a negação do funcionamento do mercado – em bom rigor, só se defende o mercado quando o seu funcionamento garante vantagens; caso contrário apela-se à intervenção divina do Estado.
Por outro lado, o habitual relambório de críticas, vindas das esquerdas domésticas, contra tudo o que suponha menos Estado e mais mercado. Quando ecoa a palavra “liberalização” vem logo à superfície a demonização da palavra. É curioso como as esquerdas que revelam alergia à liberalização têm tanto em comum como os empresários, mesmo com os grandes grupos empresariais que tantos engulhos causam e fermentam grande parte da sua frenética actividade política. Uns e outros manifestam reservas à liberalização, preferindo um papel mais activo do Estado. É certo que estão unidos nesta linha de acção por motivos diferentes. Uns – os empresários – por mero oportunismo que prejudica a sua credibilidade junto da sociedade. Outros – os políticos das esquerdas – por saberem que quanto mais mercado existir menos espaço há para o seu protagonismo, menor será a dimensão do mercado político que tantos empregos garante às clientelas que gravitam em redor destes quadrantes.
Vem isto a propósito da tendência altista dos preços dos combustíveis. A imagem difundida foi a da culpa da liberalização do mercado da revenda de combustíveis. Porque agora o Estado não controla os preços dos combustíveis, as empresas petrolíferas encontram-se à vontade para congeminar acordos secretos que servem para engordar os já avultados proveitos. Sacrificando o consumidor, que se vê coagido a pagar preços mais elevados. Sem reverter em favor das empresas que revendem gasolina e gasóleo, pois as suas margens de lucro são muito apertadas e não têm poder negocial quando é chegado o momento de determinar o preço de venda dos combustíveis.
Temos que agradecer que haja personagens políticas do calibre de António José Seguro. Anteontem, no parlamento, sugeriu que o governo alterasse o imposto sobre os produtos petrolíferos para servir de almofada à galopante alta de preços. Temos que agradecer ao “To Zé”, ao querido “To Zé”, essa figura ímpar, a síntese do que de pior existe na política doméstica. Primeiro, porque com as suas palavras veio confessar que a culpa da alta dos preços não se deve à liberalização do mercado. Imagino certas esquerdas a contorcerem-se com dores de barriga ao ouvirem as “doutas palavras” do sempre jovem deputado do PS…Segundo, porque a proposta do “To Zé” é apenas mais do mesmo: repetir a receita de Guterres, para assim piorar a situação orçamental do país, para apenas mascarar uma situação que tem as suas origens num fenómeno que não conseguimos controlar – a continuada subida do preço do petróleo no mercado internacional.
É o mercado, não os políticos, que reinam neste domínio. Sem que isso signifique que as culpas são imputadas ao mercado nacional liberalizado. Ele limita-se a seguir as pisadas do mercado internacional. No meio da tormenta, ainda temos a sorte do dólar estar fraco. Caso contrário, seria o descalabro.
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