Ao segundo dia da estadia na Polónia, desloquei-me de Gorzów para uma povoação situada a 30 km., Lubniewice. Trata-se de um local com uma paisagem bela, povoada pelo mesmo tipo de arvoredo denso que já tinha visto nos arredores de Gorzów, bordejada por dois lagos que quase cercam esta pequena povoação onde muitos polacos da região têm a sua casa de férias, onde (pela quantidade de placares com a indicação “zimmer”) muitos alemães devem ter o seu repouso veraneante.
O local é feito por medida para o descanso. Este é o testemunho de quem está cativo nesta estância de férias, distante do centro da povoação e da estrada. Neste momento, sentado numa esplanada, só ouço o chilrear de diferentes pássaros numa sinfonia harmoniosa. Nada mais – nem sequer um barulho fugidio dos automóveis que passam ao longe. Nem televisão, nem muito menos Internet, pelo que é o local ideal para estar alheado do mundo.
Ao fim de quatro dias na Polónia, o sol veio fazer-me companhia. Deixei de estar acompanhado por um céu de chumbo que ameaçava a todo o momento desabar em chuva. Esse tempo deprimente foi pousar a outras paragens.
Na curta viagem entre Gorzów e Lubniewice pude apreciar uma paisagem plana, carregada de um verde que é exuberante por ser abundantemente regado pela chuva. O arvoredo tem diferentes espécies, algumas das quais nunca vi (e, portanto, por ausência de conhecimentos botânicos, não estou em condições de identificar). Também aqui o pinheiro é a árvore que domina. Mas não é um pinheiro igual ao que temos em Portugal. É tremendamente alto, trepando pelo céu acima, obrigando o pescoço a dobrar-se bem para trás para alcançar o cume destas árvores. Como também é original a forma como estão podadas. Em vez de estarem preenchidas com a ramagem desde o topo até às proximidades do solo, estes pinheiros parecem finguelinhas escanzelados que apenas têm ramagem na parte mais superior. Os ramos que ousam descer no tronco são cortados. A aparência com que as árvores ficam é desequilibrada: um tronco espetado em altura com uma folhagem assimetricamente distribuída.
Quando cheguei a Lubniewice e me instalei na estância, meti-me à estrada e fiz o trajecto de 15 minutos que me separava da localidade. Não há muito para ver, nem para relatar. Pouca gente na rua, a avenida principal ainda a lembrar a influência soviética (era qualquer coisa que prestava um tributo a Estaline, ao que me pude aperceber, pelo nome compósito da avenida), casas que variam entre o feio e o horrível, manchando a beleza da paisagem que envolve a povoação.
Eis quando dou de caras com a igreja principal. Sabendo que os polacos eram uma excepção ao ateísmo militante imposto pela influência soviética, fiquei curioso para ver o interior da igreja, para comparar a iconografia dos polacos com a tendência dominante das igrejas portuguesas, para retirar conclusões acerca das parecenças e das diferenças entre o catolicismo de ambos os países. Ao entrar na igreja fui ouvindo em surdina os cânticos religiosos de uma missa que estava a decorrer. Não cheguei a entrar na igreja. Preferi ficar no átrio e espreitar para observar o seu interior.
Acabei, contudo, por ver a atenção desviada para outro aspecto. A vista demorou-se nas pessoas que estavam naquele serviço religioso. Estando atrás destas pessoas (não mais que uma vintena, todas mulheres), podia ver vinte cabeças preenchidas por cabelos que oscilavam entre o branco e o acinzentado. Todas as mulheres que presenciavam a missa estavam na faixa etária dos 70 para cima. Interroguei-me: daqui a dez anos, esta missa estará deserta. A menos que haja a renovação destas fiéis por outras, agora mais novas, mas ainda não suficientemente tementes a deus. A crise da fé não é infecta apenas a igreja portuguesa. Pela amostra (que desconheço se é representativa), é também um problema que inunda uma sociedade tão arreigadamente católica como a polaca.
(Em Lubniewice)
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