10.5.04

O (não) ensino público

Na esteira das habituais, mediáticas, ruidosas e ainda assim inócuas presidências abertas, Sampaio dedicou parte da semana passada ao ensino. Para chegar a conclusões que não surpreendem ninguém. Que o ensino está mal, que daí resulta uma factura pesada para o país, ao desperdiçar a sua riqueza humana numa formação escolar sem qualidade. Com os estes padrões de ensino cavamos o fosso em relação aos nossos parceiros da União Europeia. Se existe melhor forma de exaurir recursos (humanos, neste caso), a deseducação vigente é um contributo inestimável.

Com o ar habitualmente compungido do senhor presidente, muitos defeitos se apontam ao que foi feito no passado. Promessas (vãs?) de mudança são gizadas, logo após os reptos presidenciais. Os responsáveis ministeriais não podem ficar calados perante o puxar de orelhas do presidente. Até porque lhes convém. Para toda a gente que passa pelo ministério da educação, o que está mal imputa-se aos antecessores – os responsáveis pelas opções duvidosas. O passado é sempre tenebroso, o futuro de mudança sucessivamente prometido anuncia-se esperançoso. E, no entanto, promessas atrás de promessas, reformas atrás de reformas, experiências atrás de experiências, o sistema de ensino continua mergulhado no destempero.

Lamentavelmente, os destinatários do sistema são as suas cobaias. Sem terem qualquer culpa, levas sucessivas de estudantes têm sido massacrados com a inépcia de “pedagogos” que adoram fazer da escola um laboratório de experimentação social. Põem em prática concepções revolucionárias de pedagogia, que depois acabam por pagar a sua factura na impreparação cada vez mais acentuada com que os estudantes chegam aos bancos da universidade.

Pergunto-me: qual será a intenção facilitista destes pseudo-pedagogos? Como enaltecer a cultura do “ensino como prazer” nos tempos que correm, em que as exigências de competitividade no meio profissional são tão intensas? Será que esta cultura de facilidades, que não motiva nos alunos um sentimento de auto-exigência, é compatível com o grau de exigência que o ensino universitário supõe? Perante o abismo entre o ensino secundário e o ensino universitário, não será este o caminho para termos as mais elevadas taxas de abandono (nas universidades) da Europa? Ou será que a intenção é, de uma vez por todas, estender o manto da pedagogia facilitista até às universidades?

Os mestres da pedagogia contemporânea deliciam-se, no seu íntimo, a congeminar novas teorias. Quanto mais não seja para manterem os seus empregos, nem que isso signifique persistir na experimentação absurda que tem lesado os estudantes que nas últimas décadas passaram pelos bancos das escolas. Nem tão pouco se preocupam com a desvantagem competitiva que, em média, apresentamos em relação aos nossos parceiros. Na arte de fazer pedagogia, tudo isto são apenas pormenores. Ainda que, na maior parte das vezes, esta arte não passe de um exercício mesquinho que apenas excita os seus autores, sem aproveitamento eficaz para o país.

Corre o tempo e mantém-se a ditadura destes pedagogos. Com uma influência desmesurada, que tantos danos tem provocado no sistema educativo, no país. Olhando para o passado, para as diabruras educacionais que se têm sucedido, concluo que o melhor sistema de ensino é aquele que deixa as crianças nas mãos das respectivas famílias, com liberdade de escolha quanto às melhores opções escolares. Pelo menos as famílias têm contacto com o mundo real e sentem quais as necessidades que o futuro convoca. Não estão, como os pedagogos, encerrados num mundo virtual feito de experimentação social.

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