Anda polémica no ar por causa da publicidade engendrada pelo governo para a iniciativa “novas oportunidades”. A campanha tenciona atrair públicos à escola para concluírem os estudos que outrora ficaram a meio. A publicidade alusiva serve-se de figuras públicas que dão o corpo a personagens que não teriam o estrelato que atingiram se não tivessem porfiado nos estudos. Carlos Queirós é tratador de relva num estádio de futebol. Judite Sousa é ardina. Pedro Abrunhosa é o funcionário do cinema que encaminha os espectadores até aos seus lugares.
Algumas virgens ofendidas protestaram contra a indignidade. Acham que há ali a desconsideração de profissões (o tratador de relva, a ardina, o arrumador do cinema). Que aquelas personagens não foram longe na vida porque decidiram arrumar os livros cedo de mais – e isso não deve ser trazido a público. Não é de estranhar que neste lugar pontuado pela fobia da igualdade haja quem fique contrariado com a campanha. Como sempre, dão o melhor para descobrir sinais de iniquidade, denunciando a coisa por ser contrária ao politicamente correcto.
Antes de ir à substância, reparo que este é um texto construtivo – finalmente! Pela primeira vez, até parece que saio em defesa deste governo. O que muito me custaria, por não ser capaz de caucionar ineptos. Impõe-se um esclarecimento que coloca as coisas no devido lugar: não há aqui defesa do governo, nem sequer aplauso à iniciativa “novas oportunidades”. Vejo na medida mais uma operação de cosmética, com a sobranceria do aprumo social que tanto atrai.
Resta saber se, daqui a uns anos (quando for chegado o momento de avaliar medidas pomposamente anunciadas, exercício que, contudo, é remetido para a agenda dos esquecimentos), a operação se saldou pelo sucesso. Se houve muitos adultos de regresso à escola. Se muitos levaram até ao final o corajoso acto de voltar a estudar, concluindo os estudos secundários. Será importante ajuizar como se concretiza o modelo: os adultos regressados à escola vão ter tratamento especial, para passarem às disciplinas com mais facilidade? É o que consta. Nada mau para quem tanto apregoa o sagrado valor da igualdade: os alunos em idade de o serem, esses ficam prejudicados porque têm que se esforçar mais para obterem aproveitamento às disciplinas. Se este é o espírito das “novas oportunidades”, parece-me um tremendo embuste. Apenas um ardil para mostrar que temos menos iliteracia, ou uma sumptuosa ilusão estatística que nos há-de retirar do vergonhoso lugar que ocupamos na escala do sucesso escolar. Como estes socialistas tanto gostam de legislar, pergunto até que ponto não seria melhor exarar decreto que atribuísse a todos os cidadãos sem habilitações o 12º ano apenas por o serem – cidadãos, e com a sorte de serem governados por iluminados socialistas.
O que me transtorna não é a operação de cosmética que tenciona sentar nos bancos da escola adultos e mesmo senescentes. Admira-me (porque teimo em ser ingénuo…) que haja ofendidos pela forma como a medida foi posta a circular. Parece-me que os ofendidos estão a analisar o problema ao contrário. Protestam contra a desvalorização das pessoas que ocupam profissões retratadas no anúncio publicitário. Argumentam: há ali um laivo de exclusão social. Incomodam-se porque os ardinas, os jardineiros, os arrumadores de cinema mergulham na frustração ao serem retratados daquela forma. Lamentavelmente, ainda ninguém se preocupou em interrogar os visados, para saber se houve melindre com a publicidade que, aos olhos dos outros, os apouca.
Quando tanta tinta escorre enaltecendo os conhecimentos, quando os mesmos que se insurgem contra aquela publicidade estão na linha da frente contra o analfabetismo e a iliteracia – considerando-as expressões de exclusão social –, como podem esboçar tantas críticas moralistas quando tudo o que se pretende é chamar de volta à escola pessoas em idade madura. Pessoas que, por vicissitudes várias ou apenas pela preguiça da adolescência, admitem agora que os estudos que não fizeram povoam um vazio que querem preencher. O desconforto da instrumentalização daquelas profissões é uma estúpida obnubilação da realidade. Elas não deixam de existir, nem que pessoas sem estudos desaparecem dos registos oficiais, se o anúncio desaparecer das televisões.
Os ofendidos críticos enganam-se na lente: deviam perceber que estudar não é maleita. Aliás, como o comprova o excelso percurso do primeiro-ministro, com o beneplácito (e o público elogio) do ministro que tutela o sector. Ah, já me esquecia, esta alusão não devia aparecer: pois já houve quem oficialmente decretasse que a polémica das habilitações académicas do primeiro-ministro é “assunto encerrado”. Cá está o paradigma do regresso aos estudos. Ponhamos os olhos no exemplo do timoneiro!
Algumas virgens ofendidas protestaram contra a indignidade. Acham que há ali a desconsideração de profissões (o tratador de relva, a ardina, o arrumador do cinema). Que aquelas personagens não foram longe na vida porque decidiram arrumar os livros cedo de mais – e isso não deve ser trazido a público. Não é de estranhar que neste lugar pontuado pela fobia da igualdade haja quem fique contrariado com a campanha. Como sempre, dão o melhor para descobrir sinais de iniquidade, denunciando a coisa por ser contrária ao politicamente correcto.
Antes de ir à substância, reparo que este é um texto construtivo – finalmente! Pela primeira vez, até parece que saio em defesa deste governo. O que muito me custaria, por não ser capaz de caucionar ineptos. Impõe-se um esclarecimento que coloca as coisas no devido lugar: não há aqui defesa do governo, nem sequer aplauso à iniciativa “novas oportunidades”. Vejo na medida mais uma operação de cosmética, com a sobranceria do aprumo social que tanto atrai.
Resta saber se, daqui a uns anos (quando for chegado o momento de avaliar medidas pomposamente anunciadas, exercício que, contudo, é remetido para a agenda dos esquecimentos), a operação se saldou pelo sucesso. Se houve muitos adultos de regresso à escola. Se muitos levaram até ao final o corajoso acto de voltar a estudar, concluindo os estudos secundários. Será importante ajuizar como se concretiza o modelo: os adultos regressados à escola vão ter tratamento especial, para passarem às disciplinas com mais facilidade? É o que consta. Nada mau para quem tanto apregoa o sagrado valor da igualdade: os alunos em idade de o serem, esses ficam prejudicados porque têm que se esforçar mais para obterem aproveitamento às disciplinas. Se este é o espírito das “novas oportunidades”, parece-me um tremendo embuste. Apenas um ardil para mostrar que temos menos iliteracia, ou uma sumptuosa ilusão estatística que nos há-de retirar do vergonhoso lugar que ocupamos na escala do sucesso escolar. Como estes socialistas tanto gostam de legislar, pergunto até que ponto não seria melhor exarar decreto que atribuísse a todos os cidadãos sem habilitações o 12º ano apenas por o serem – cidadãos, e com a sorte de serem governados por iluminados socialistas.
O que me transtorna não é a operação de cosmética que tenciona sentar nos bancos da escola adultos e mesmo senescentes. Admira-me (porque teimo em ser ingénuo…) que haja ofendidos pela forma como a medida foi posta a circular. Parece-me que os ofendidos estão a analisar o problema ao contrário. Protestam contra a desvalorização das pessoas que ocupam profissões retratadas no anúncio publicitário. Argumentam: há ali um laivo de exclusão social. Incomodam-se porque os ardinas, os jardineiros, os arrumadores de cinema mergulham na frustração ao serem retratados daquela forma. Lamentavelmente, ainda ninguém se preocupou em interrogar os visados, para saber se houve melindre com a publicidade que, aos olhos dos outros, os apouca.
Quando tanta tinta escorre enaltecendo os conhecimentos, quando os mesmos que se insurgem contra aquela publicidade estão na linha da frente contra o analfabetismo e a iliteracia – considerando-as expressões de exclusão social –, como podem esboçar tantas críticas moralistas quando tudo o que se pretende é chamar de volta à escola pessoas em idade madura. Pessoas que, por vicissitudes várias ou apenas pela preguiça da adolescência, admitem agora que os estudos que não fizeram povoam um vazio que querem preencher. O desconforto da instrumentalização daquelas profissões é uma estúpida obnubilação da realidade. Elas não deixam de existir, nem que pessoas sem estudos desaparecem dos registos oficiais, se o anúncio desaparecer das televisões.
Os ofendidos críticos enganam-se na lente: deviam perceber que estudar não é maleita. Aliás, como o comprova o excelso percurso do primeiro-ministro, com o beneplácito (e o público elogio) do ministro que tutela o sector. Ah, já me esquecia, esta alusão não devia aparecer: pois já houve quem oficialmente decretasse que a polémica das habilitações académicas do primeiro-ministro é “assunto encerrado”. Cá está o paradigma do regresso aos estudos. Ponhamos os olhos no exemplo do timoneiro!
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