É a força de expressão que me ocorre quando vejo na rua, aos pares, missionários de religiões minoritárias que vão de porta em porta em busca de almas para o rebanho. Há as testemunhas de Jeová e os elders (que creio serem representantes de uma igreja evangélica ou metodista, não sei ao certo).
Os seguidores de Jeová são parelhas que respeitam a igualdade de sexos: sempre um homem e uma mulher que espalham a “palavra do senhor”, na interpretação dos Jeovás, tocando às campainhas das casas que se encontram defronte dos seus olhos. Os elders são rapazes na adolescência tardia que chegam dos Estados Unidos e arranham um português esforçado, com um carregado sotaque norte-americano. Os Jeovás envergam fatiota de cerimónia. O senhor traz fato e gravata e uns sapatos confortáveis, pois são longos os quilómetros a palmilhar, são longas as horas que suportam em pé. A senhora reproduz o registo no feminino, na obrigação de trajar saia – que as senhoras devem andar sempre de saia, se bem percebo ao ver que todas as testemunhas de Jeová nunca vestem masculinas calças. As feministas têm aqui pano para mangas, denunciando uma sórdida segregação sexista.
Os elders não dispensam uma anódina gravata por cima da tradicional camisa branca. Não vestem casaco, nem sequer quando o frio invernal se apodera dos ossos. Dir-se-ia que os caminhos trilhados na aspersão da “palavra do senhor” são o aquecedor do espírito que traz a insensibilidade ao frio. No contrário de um verso cantado por Davendra Banhart (“fazia calor mas eu sentia frio”), os elders irradiam um calor interior mesmo quando as temperaturas beijam o limiar dos graus negativos. A diferença na indumentária vem com o Verão, quando as camisas perdem algum pano nas mangas e os braços de uma alvura impressionante ficam expostos ao sol inclemente.
A imagem da errância dos Jeovás e dos elders impressiona-me. E mais impressionado fico pelo ateísmo que me consome. É uma imagem que me perturba pela entrega dos missionários, que se entregam à rua e aos desconhecidos com a intenção de arregimentar fiéis para as suas igrejas. Sabem que este é um país que ainda traz o catolicismo enraizado nos costumes. Ainda que o passar dos tempos traga desmobilização em relação à igreja católica, mais visível nos grandes centros urbanos e entre a camada jovem da população, e que as leis ditem a secularização do Estado, continuamos a ser um Estado confessional. As provas estão aí, todos os dias, em todos os lugares: representantes eclesiásticos ocupam lugar de destaque nas regras protocolares do Estado; há, ininterruptamente, um bispo convocado para benzer as obras públicas que se inauguram, pois a pompa exige a bênção divina.
Diria que os Jeovás e os elders pisam terreno minado. Um sacerdócio sacrificial é o que os espera. Imagino a quantidade de portas que se batem na sua cara, as pessoas não aceitando sequer um minuto de conversa. E eles insistem, tocam à campainha de mais e mais lares. Desconheço se os sacerdotes destas igrejas esboçam objectivos que os missionários colocados nas ruas têm que cumprir – como se fossem os comerciais de uma empresa que trabalham por objectivos, ganhando à comissão pelas vendas que fazem. E desconheço se o espírito de missão dos Jeovás e elders que erram rua fora é a penitência necessária, uma espécie de provação que mostra a entrega à causa religiosa que abraçaram.
Não há nada que me alicie na mensagem bíblica dos Jeovás e dos elders – ou de qualquer outra religião. Contudo, acho notável como uns e outros se entregam à missão de sacrifício. Há ali um desprendimento que seria exemplar: os que tanto criticam o individualismo do ser humano têm nos judeus errantes – imagem que retrata os missionários que são embaixadores daquelas religiões – o protótipo do altruísmo que, houvesse mister de o estender a mais gente, seria a cura para muitos dos males que nos afectam. Fôssemos todos missionários de uma causa qualquer, houvesse vontade para nos desprendermos do comodismo individualista, e a espécie humana por fim conseguiria ilustrar um ideal de entrega de uns aos outros.
Como sou individualista empedernido, não é essa a leitura que faço do espírito de missão daqueles judeus errantes. Interessa-me ir por outros caminhos: e impressionar-me com a capacidade de penitência que revelam, na demanda em busca de novas ovelhas que venham ser apascentadas pelo seu deus. Quantos de nós teriam capacidade para esta errância?
Os seguidores de Jeová são parelhas que respeitam a igualdade de sexos: sempre um homem e uma mulher que espalham a “palavra do senhor”, na interpretação dos Jeovás, tocando às campainhas das casas que se encontram defronte dos seus olhos. Os elders são rapazes na adolescência tardia que chegam dos Estados Unidos e arranham um português esforçado, com um carregado sotaque norte-americano. Os Jeovás envergam fatiota de cerimónia. O senhor traz fato e gravata e uns sapatos confortáveis, pois são longos os quilómetros a palmilhar, são longas as horas que suportam em pé. A senhora reproduz o registo no feminino, na obrigação de trajar saia – que as senhoras devem andar sempre de saia, se bem percebo ao ver que todas as testemunhas de Jeová nunca vestem masculinas calças. As feministas têm aqui pano para mangas, denunciando uma sórdida segregação sexista.
Os elders não dispensam uma anódina gravata por cima da tradicional camisa branca. Não vestem casaco, nem sequer quando o frio invernal se apodera dos ossos. Dir-se-ia que os caminhos trilhados na aspersão da “palavra do senhor” são o aquecedor do espírito que traz a insensibilidade ao frio. No contrário de um verso cantado por Davendra Banhart (“fazia calor mas eu sentia frio”), os elders irradiam um calor interior mesmo quando as temperaturas beijam o limiar dos graus negativos. A diferença na indumentária vem com o Verão, quando as camisas perdem algum pano nas mangas e os braços de uma alvura impressionante ficam expostos ao sol inclemente.
A imagem da errância dos Jeovás e dos elders impressiona-me. E mais impressionado fico pelo ateísmo que me consome. É uma imagem que me perturba pela entrega dos missionários, que se entregam à rua e aos desconhecidos com a intenção de arregimentar fiéis para as suas igrejas. Sabem que este é um país que ainda traz o catolicismo enraizado nos costumes. Ainda que o passar dos tempos traga desmobilização em relação à igreja católica, mais visível nos grandes centros urbanos e entre a camada jovem da população, e que as leis ditem a secularização do Estado, continuamos a ser um Estado confessional. As provas estão aí, todos os dias, em todos os lugares: representantes eclesiásticos ocupam lugar de destaque nas regras protocolares do Estado; há, ininterruptamente, um bispo convocado para benzer as obras públicas que se inauguram, pois a pompa exige a bênção divina.
Diria que os Jeovás e os elders pisam terreno minado. Um sacerdócio sacrificial é o que os espera. Imagino a quantidade de portas que se batem na sua cara, as pessoas não aceitando sequer um minuto de conversa. E eles insistem, tocam à campainha de mais e mais lares. Desconheço se os sacerdotes destas igrejas esboçam objectivos que os missionários colocados nas ruas têm que cumprir – como se fossem os comerciais de uma empresa que trabalham por objectivos, ganhando à comissão pelas vendas que fazem. E desconheço se o espírito de missão dos Jeovás e elders que erram rua fora é a penitência necessária, uma espécie de provação que mostra a entrega à causa religiosa que abraçaram.
Não há nada que me alicie na mensagem bíblica dos Jeovás e dos elders – ou de qualquer outra religião. Contudo, acho notável como uns e outros se entregam à missão de sacrifício. Há ali um desprendimento que seria exemplar: os que tanto criticam o individualismo do ser humano têm nos judeus errantes – imagem que retrata os missionários que são embaixadores daquelas religiões – o protótipo do altruísmo que, houvesse mister de o estender a mais gente, seria a cura para muitos dos males que nos afectam. Fôssemos todos missionários de uma causa qualquer, houvesse vontade para nos desprendermos do comodismo individualista, e a espécie humana por fim conseguiria ilustrar um ideal de entrega de uns aos outros.
Como sou individualista empedernido, não é essa a leitura que faço do espírito de missão daqueles judeus errantes. Interessa-me ir por outros caminhos: e impressionar-me com a capacidade de penitência que revelam, na demanda em busca de novas ovelhas que venham ser apascentadas pelo seu deus. Quantos de nós teriam capacidade para esta errância?
1 comentário:
ola. eu como testemunha de jeova so tento explicar uma coisa. quande recebe uma informaxao de haveria uma guerra, mas que haveria maneira de escapar a ela, n keria dividir essa informaxao com os demais?? é isso que as testemunhas de jeova tentam fazer... sabes mos que ira acontecer um armagedom, e apenas tentamos dar a conhcer as pessoas a unica maneira de sobreviver a ele. cumprimentos, Sara
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