16.9.11

Carta aberta às feministas


In http://www.autoportal.iol.pt/galeria/146459/368x276
Minhas queridas:
Vossas excelências andam distraídas. E essa distração importa danos para a vossa causa. Aqui vão uns exemplos de como não andam a tratar da causa a preceito. São exemplos retirados de contextos que, por antinomia de interesses, não são frequentados por vossas excelências. Quero acreditar que só por desconhecimento é que ainda não agiram com a habitual voz firme de protesto. Deixo aqui um modesto contributo.
Há certames onde os fabricantes de automóveis mostram as novidades para os tempos vindouros. As páginas da especialidade estão repletas de fotografias dos automóveis engalanadas com esculturais meninas em trajes muito reduzidos e em poses provocantes. Há psicólogos que retrataram a ligação entre automóveis e lascívias mulheres que aparecem, quais adornos, a embelezar as fotografias dos mesmos. Uns e outras mexem com a testosterona. Ora isto está profundamente errado. As meninas recrutadas a agências de modelos são coisificadas. Cruamente coisificadas. Vossas excelências, ó feministas exaltadas, ainda não lavraram o protesto do costume. Podiam convocar um boicote aos fabricantes de automóveis enquanto eles teimassem em usar mulheres como objetos decorativos do que produzem. As empresas de transportes públicos talvez não agradecessem a deferência.
Outro exemplo da vossa distração: nos jogos de futebol caseiros há um cerimonial aberrante. Antes do jogo começar, as equipas e os árbitros alinham para a audiência em forma de saudação. Entre os árbitros estacionam duas meninas outra vez em trajes menores. Antes de os artistas da bola dedicarem impropérios aos árbitros, desfilam à frente deles numa educada e hipócrita saudação. Passam olimpicamente pelas meninas, como se fossem zeros à esquerda: as meninas não merecem nem um aceno de mão. É como se fossem coisas que ali estão para emprestar um colorido másculo à função (másculo porque excita as hormonas varonis). Não serem cumprimentadas é um ultraje que as feministas ainda não testemunharam.
Termino. Convencido que as feministas não leem jornais. Senão, quando os seus olhos esbarrassem nas muito coloridas páginas de “anúncios de relax” (tal é o eufemismo), já tinham exigido a proibição por decreto dos muito sugestivos anúncios de mulheres que vendem o corpo – outra vez na tremenda coisificação da mulher.
(Um dia destes, ao deitar jornais onde a cadela urina nas horas de aperto, fiz uma breve análise sociológica da página dos “anúncios de relax”. Metade eram de travestis. O que dava para tingir páginas e eito com milhares de palavras...)

2 comentários:

Sérgio Lira disse...

...falha horrenda, Paulo: esqueceste o anúncio da Vodafone qual canto de sereia; passa em canal aberto e pretende incentivar a ida às aulas (não, ainda não se adoptou no ensino superior, nem público nem privado, hélas).

PVM disse...

Tens toda a razão, Sérgio. Como me pude esquecer desse paradigma de atropelo aos direitos das mulheres?! E concordo contigo na matéria: hélas!