28.9.11

Sedutores em vias de extinção (ainda)


In http://aralumiar.files.wordpress.com/2011/05/david_mourao_ferreira.jpg?w=199&h=137
Pode parecer que fiquei traumatizado com o assunto (foi anteontem, quando aqui trouxe a derradeira invenção de um grupelho de feministas assanhadas: a castração de incorrigíveis playboys). Pode parecer que estou atemorizado. Não há motivos. Não vou, admito, escorregar para a habitual ladainha comiserada dos apoderados pelo desamor, que choram pelos cantos e compõem desamores em prosa e poética. Por aqui, nem oito nem oitenta. O que me deixa à vontade para regressar ao assunto.
De repente a ideia de castrar varões com as hormonas aos saltos que, todavia, não consumaram as investidas, trouxe-me a isto: o que seria da literatura se os poetas que ganharam fama com as trovas de amor, com os poemas que destilam sedução em estado puro, fossem vivos e publicassem esses poemas? Tenho a impressão que as feministas à caça de endoidados pelo sexo contrário não dariam quartel. Haveria brigadas a tempo inteiro espiolhando os livros destes poetas que saíssem para as prateleiras das livrarias. Ai deles que tivessem a ousadia de verter em estrofe versos em que as hermeneutas de serviço decantassem extrações de machismo sexuado. Os poetas, na rota do exílio. Os seus livros, os novos mensageiros das inquisitórias fogueiras onde o herege atropelo das liberdades cresta em lume brando.
Os que não tiveram a fortuna de nascer fora dos tempos conturbados que são estes, embutidos por gente muito sensível que adora espezinhar as liberdades, não tenham o topete de escrevinhar poemas onde exaltam a adoração pelo sexo contrário. Manda a prudência que metam a viola no saco. Eles que aprendam o saber monástico da repressão dos sentidos. Sufoquem os vulcões interiores. Vertam a imparável sedução em palavras depois engavetadas no muito privado e inacessível arquivo (não vá o diabo tecê-las). É que o diabo é um rabo de saias. Ou porque os sedutores não conseguem resistir a um notável rabo de saias (ao que as saias ocultam). Ou porque sucumbem à armadilha dos outros rabos de saia, as bruxas frígidas que patrulham os costumes à fina força.
E se as caçadoras virassem presas? Castrar a eloquência poética é coisa que merece que se vire o avesso.

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