In http://aralumiar.files.wordpress.com/2011/05/david_mourao_ferreira.jpg?w=199&h=137
Pode
parecer que fiquei traumatizado com o assunto (foi anteontem, quando aqui trouxe a
derradeira invenção de um grupelho de feministas assanhadas: a castração de
incorrigíveis playboys). Pode parecer
que estou atemorizado. Não há motivos. Não vou, admito, escorregar para a habitual
ladainha comiserada dos apoderados pelo desamor, que choram pelos cantos e
compõem desamores em prosa e poética. Por aqui, nem oito nem oitenta. O que me
deixa à vontade para regressar ao assunto.
De
repente a ideia de castrar varões com as hormonas aos saltos que, todavia, não
consumaram as investidas, trouxe-me a isto: o que seria da literatura se os
poetas que ganharam fama com as trovas de amor, com os poemas que destilam
sedução em estado puro, fossem vivos e publicassem esses poemas? Tenho a
impressão que as feministas à caça de endoidados pelo sexo contrário não dariam
quartel. Haveria brigadas a tempo inteiro espiolhando os livros destes poetas
que saíssem para as prateleiras das livrarias. Ai deles que tivessem a ousadia
de verter em estrofe versos em que as hermeneutas de serviço decantassem extrações
de machismo sexuado. Os poetas, na rota do exílio. Os seus livros, os novos mensageiros
das inquisitórias fogueiras onde o herege atropelo das liberdades cresta em
lume brando.
Os
que não tiveram a fortuna de nascer fora dos tempos conturbados que são estes, embutidos
por gente muito sensível que adora espezinhar as liberdades, não tenham o
topete de escrevinhar poemas onde exaltam a adoração pelo sexo contrário. Manda
a prudência que metam a viola no saco. Eles que aprendam o saber monástico da repressão
dos sentidos. Sufoquem os vulcões interiores. Vertam a imparável sedução em
palavras depois engavetadas no muito privado e inacessível arquivo (não vá o
diabo tecê-las). É que o diabo é um rabo de saias. Ou porque os sedutores não
conseguem resistir a um notável rabo de saias (ao que as saias ocultam). Ou
porque sucumbem à armadilha dos outros rabos de saia, as bruxas frígidas que
patrulham os costumes à fina força.
E
se as caçadoras virassem presas? Castrar a eloquência poética é coisa que merece
que se vire o avesso.
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